Introdução
O dogma
da ressurreição da carne afirma que todos os homens ressuscitarão no fim dos
tempos e retornarão aos seus corpos. Neste artigo, abordaremos essa crença,
suas bases nas Escrituras e Tradição, bem como a sua relação com a razão,
respondendo às objeções levantadas por críticos racionalistas.
Ressurreição da Carne
Adversários
a) A crença na ressurreição dos corpos enfrentou
oposição ao longo da história. Pagãos não acreditavam nessa doutrina, e mesmo
entre os judeus, a seita dos saduceus não a reconhecia.
b) Além disso, vários grupos, como os gnósticos,
maquineus, albigenses e socinianos, negaram o dogma. Mesmo alguns protestantes
liberais e racionalistas consideraram a ressurreição da carne contrária à razão
e à ciência.
Dogma e Provas
O artigo
de fé dos três símbolos da Igreja declara que os homens ressuscitarão no final
dos tempos e retomarão os seus corpos. Esse dogma foi definido pelo IV Concílio
de Latrão em resposta às heresias albigenses e tem suas raízes tanto nas
Escrituras como na Tradição.
Antigo Testamento
O Antigo
Testamento já faz alusão à ressurreição dos corpos:
Jó afirma
a ressurreição dos corpos para a visão de Deus (Jó 19, 25-27).
O profeta
Daniel menciona a ressurreição, onde alguns acordarão para a vida eterna e
outros para a condenação eterna (Daniel 12,2).
Os irmãos
Macabeus expressam a esperança de que, mesmo na hora do martírio, receberão
novamente seus corpos de Deus (II Macabeus 7,11).
Novo Testamento
Os judeus
já acreditavam na ressurreição dos corpos, e Jesus Cristo reforçou essa crença
por meio de seus ensinamentos:
Jesus
declarou que os mortos ressuscitarão, alguns para a vida eterna e outros para a
condenação (João 5,28-29).
Ele
também afirmou ser "a ressurreição e a vida" (João 11,25) e prometeu
que aqueles que comessem de sua carne e bebessem de seu sangue ressuscitariam
no último dia (João 6,54).
O
apóstolo Paulo ensinou que, se somos membros de Cristo e se Ele ressuscitou dos
mortos, também nós ressuscitaremos (Romanos 12,5).
Ele
enfatizou a importância da ressurreição, argumentando que, se os mortos não
ressuscitam, Cristo também não ressuscitou (I Coríntios 15, 12-13).
Conclusão
De acordo
com a doutrina católica tradicional, todos os seres humanos ressuscitarão e
recuperarão seus corpos.
Os
mártires receberão corpos gloriosos e sinais gloriosos.
Os
pecadores ressuscitarão para o castigo, enquanto os justos terão corpos
semelhantes ao de Jesus Ressuscitado (Filipenses 3,21).
A Igreja Católica,
em respeito ao corpo dos falecidos, proibiu o antigo costume pagão de cremação
de cadáveres.
Dogma Perante a Razão
Objeções
Racionalistas
argumentam que o dogma da ressurreição do corpo é contrário à ciência.
Argumento
da Antropofagia: Alegam que a substância da carne humana, sendo consumida por
antropófagos em diferentes épocas, pertenceria a vários indivíduos.
Referência
à Decomposição dos Corpos: Observam que os corpos humanos, quando enterrados,
são transformados e absorvidos por vegetais, que se tornam nossa alimentação.
Resposta
A
Doutrina Católica sustenta a ressurreição dos corpos, sem necessariamente
especificar como isso ocorrerá. É suficiente demonstrar que o dogma não é
absurdo.
a) Identidade Formal: O dogma afirma a identidade
formal do corpo, não sua identidade material ao longo da vida. Mesmo que haja
mudanças nas substâncias do corpo, a alma permanece como o princípio da
identidade.
b) Ressurreição e Razão: A ressurreição dos corpos não
é contrária à razão; na verdade, a satisfaz. É conveniente para Deus manifestar
Sua glória, bondade e poder exaltando o corpo junto com a alma. A separação
entre corpo e alma não deve ser eterna, uma vez que o corpo é o instrumento da
alma para o bem e o mal, sendo santificado pelos sacramentos.
Portanto,
a razão apoia a ideia de que Deus permitirá que o corpo participe da recompensa
e da felicidade da alma, mantendo a harmonia entre a fé e a razão.
Doutrina Católica do Cônego Auguste Boulenger