Epístola
Lição da Ep.ª do B. Ap.º Paulo aos Filipenses.
Fl 3,17-21; 4,1-3
Meus
irmãos: Sede meus imitadores e segui aqueles que se conduzem segundo o modelo
que tendes em nós; porque há muitos, de quem vos tenho falado (e ainda falo
deles com lágrimas), que se portam como inimigos da cruz de Cristo. Seu fim
será a condenação; pois fazem do estômago o seu deus, põem a sua glória naquilo
que deveria ser motivo de vergonha e não têm prazer senão nas cousas terrenas.
Mas, quanto a nós, o nosso pensamento está nos céus, donde também esperamos o
Salvador, N. S. Jesus Cristo, que renovará o nosso corpo vil, tornando-o
semelhante ao seu corpo glorioso, por meio daquela virtude, que Ele possui, de
sujeitar a si todas as cousas. Portanto, queridos e amados irmãos, que sois a
minha alegria e a minha coroa, permanecei firmes no Senhor, meus caríssimos
irmãos. Peço a Evódia e suplico a Sintiquene que tenham os mesmos sentimentos
no Senhor. Também vos rogo, ó fiel companheiro, que auxilieis aqueles que
trabalharam comigo pelo Evangelho, com Clemente e com os outros meus
coadjutores, cujos nomes estão no livro da vida.
Continuação ☩ do santo Evangelho segundo S. Mateus.
Mt 9,18-26
Naquele
tempo, falando Jesus ao povo, um dos príncipes da sinagoga aproximou-se d’Ele
e, adorando-O, disse-Lhe: «Senhor, a minha filha acaba de morrer, mas vinde,
colocai vossas mãos sobre ela e recobrará a vida». Levantando-se então, Jesus
segui-o com os discípulos. Logo, uma mulher que padecia dum fluxo de sangue
havia doze anos aproximou-se d’Ele por detrás e tocou-Lhe na franja do vestido,
pois (dizia de si para si), se eu tocar, somente que seja, no seu vestido,
serei curada. Então Jesus, voltando-se e vendo-a, disse-lhe: «Tende confiança,
minha filha, a vossa fé salvou-vos». E naquela hora foi curada esta mulher!
Quando Jesus chegou a casa do príncipe da sinagoga, vendo os tocadores de
flauta e a turba do povo, carpindo muito, disse: «Retirai-vos, porque a menina
não está morta, mas adormecida». Eles riam-se de Jesus! Havendo, porém, saído a
turba, entrou Jesus e pegou na mão da menina, que logo ressuscitou! E correu a
fama deste acontecimento em todo o país.
MEDITAÇÃO
Domine, filia
mea modo defuncta est: sed veni, impone manum tuam super em et vivet – “Senhor,
nesta hora acaba de expirar minha filha; mas vem, impõe sobre ela a tua mão, e
viverá” (Mt 9, 18)
Sumário. Meu irmão, se porventura te achares enfermo
espiritualmente por causa do pecado, imita a hemorroíssa, da qual nos fala o
Evangelho, chega-te a Jesus, na pessoa de seu representante, o sacerdote, no
sacramento da penitência. Se, como espero, a consciência não te acusa de pecado
grave, imita a confiança de Jairo, e roga ao Senhor faça reviver
espiritualmente tantos pecadores, teus irmão. Considera, porém, atentamente que
não seja daqueles que têm o nome de vivos e estão mortos ou moribundos por causa
de sua tibieza.
I. Refere o Evangelho que, “enquanto falava aos judeus,
acercou-se um príncipe, e o adorou dizendo: Senhor, nesta hora acaba de falecer
minha filha; mas vem, impõe sobre ela tua mão e viverá. E Jesus, levantando-se,
o foi seguindo com os seus discípulos. E eis que uma mulher, que havia doze
anos padecia um fluxo de sangue, chegou-se por detrás dele e lhe tocou a
fimbria do vestido. Porque dizia consigo: Se tocar ao menos o seu vestido,
estarei curada. E, voltando-se Jesus e vendo-a, disse: Tem confiança, filha,
tua fé te sarou. E ficou sã a mulher desde aquela hora – “Et salva facta est
mulier ex illa hora.”
Diz Cornélio a Lapide, que tanto a hemorroíssa como a
jovem morta são figuras da alma pecadora, a qual Jesus Cristo quer ressuscitar
para a vida espiritual e livrar do desregramento da concupiscência, figurado
pelo fluxo de sangue. E São Boaventura, refletindo sobre este trecho do
Evangelho, dirige-se ao pecador e diz:
“Aquela jovem é tua alma, morta há pouco pelo pecado;
converte-te já para Deus: Festina conversionem.”
– Portanto, meu irmão se porventura tens ofendido a
Deus, imita a fé daquela pobre mulher e chega-te a Jesus, na pessoa de seu
ministro, no tribunal da penitência. E não tardes em fazê-lo, porque, se fores
adiando, virá talvez sobre ti a ira de Deus e te mandará ao inferno (1).
Se, porém, como espero, não tens pecado grave na alma,
imita a Jairo, pai da jovem, e roga ao Senhor venha com a sua graça e faça
ressuscitar espiritualmente tantos pecadores, teus irmãos. – Considera todavia
atentamente não sejas do número daqueles de quem diz São João: “Tem reputação
de que vivem, mas estão mortos”, ou quase moribundos por causa de sua tibieza
(2).
II. Continua o Evangelista dizendo que “chegado Jesus à
casa do príncipe, vendo os músicos e um bando de gente em alarido, disse:
Retirai-vos; porque não está morta a menina, mas dorme. E zombavam dele. Tendo
saído a gente, entrou Jesus e tomou-a pela mão. E a menina se levantou. E
correu esta fama por toda aquela terra.”
Observa, diz São Gregório, que antes de ressuscitar a
menina, Jesus manda a gente sair e faz cessar o alarido. Isso nos ensina que
para ressurgirmos do pecado ou da tibieza, devemos afastar de nós esse tropel
de pensamentos e afetos desordenados, esse tumulto de cuidados terrestres e de
conversações supérfluas. – Acrescenta o evangelista São Marcos, que depois da
ressurreição da menina, o Senhor a fez andar e ordenou que lhe dessem de comer
(3). É o que nós também devemos fazer depois de ressuscitados para a vida da
graça. Não devemos ficar parados, senão andar no caminho da perfeição e com
este fim alimentar-nos com o Pão dos Anjos. Os santos ensinam unanimemente que
não progredir no caminho do Senhor é voltar para trás: In via Domini non
progredi retrogredi est.
Ó meu amado Jesus, eu me esqueci de Vós, mas vejo que
Vós não Vos esquecestes de mim. Agradeço-Vos as luzes que me comunicais e
peço-Vos “queirais absolver-me de todos os meus delitos, para que, por vossa
liberalidade, seja livre dos grilhões das culpas que por minha fraqueza
contraí.”(4)
† Doce coração de Maria, sede minha salvação.
Referências:
(1) Ecle 5, 8
(2) Ap 3, 1
(3) Mc 5, 43
(4) Or. Dom.
curr.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os
Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de
Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p.
225-227)