XXIII Domingo depois de Pentecostes

 


Epístola

Lição da Ep.ª do B. Ap.º Paulo aos Filipenses.

Fl 3,17-21; 4,1-3

 

         Meus irmãos: Sede meus imitadores e segui aqueles que se conduzem segundo o modelo que tendes em nós; porque há muitos, de quem vos tenho falado (e ainda falo deles com lágrimas), que se portam como inimigos da cruz de Cristo. Seu fim será a condenação; pois fazem do estômago o seu deus, põem a sua glória naquilo que deveria ser motivo de vergonha e não têm prazer senão nas cousas terrenas. Mas, quanto a nós, o nosso pensamento está nos céus, donde também esperamos o Salvador, N. S. Jesus Cristo, que renovará o nosso corpo vil, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, por meio daquela virtude, que Ele possui, de sujeitar a si todas as cousas. Portanto, queridos e amados irmãos, que sois a minha alegria e a minha coroa, permanecei firmes no Senhor, meus caríssimos irmãos. Peço a Evódia e suplico a Sintiquene que tenham os mesmos sentimentos no Senhor. Também vos rogo, ó fiel companheiro, que auxilieis aqueles que trabalharam comigo pelo Evangelho, com Clemente e com os outros meus coadjutores, cujos nomes estão no livro da vida.

 

Continuação do santo Evangelho segundo S. Mateus.

Mt 9,18-26

 

         Naquele tempo, falando Jesus ao povo, um dos príncipes da sinagoga aproximou-se d’Ele e, adorando-O, disse-Lhe: «Senhor, a minha filha acaba de morrer, mas vinde, colocai vossas mãos sobre ela e recobrará a vida». Levantando-se então, Jesus segui-o com os discípulos. Logo, uma mulher que padecia dum fluxo de sangue havia doze anos aproximou-se d’Ele por detrás e tocou-Lhe na franja do vestido, pois (dizia de si para si), se eu tocar, somente que seja, no seu vestido, serei curada. Então Jesus, voltando-se e vendo-a, disse-lhe: «Tende confiança, minha filha, a vossa fé salvou-vos». E naquela hora foi curada esta mulher! Quando Jesus chegou a casa do príncipe da sinagoga, vendo os tocadores de flauta e a turba do povo, carpindo muito, disse: «Retirai-vos, porque a menina não está morta, mas adormecida». Eles riam-se de Jesus! Havendo, porém, saído a turba, entrou Jesus e pegou na mão da menina, que logo ressuscitou! E correu a fama deste acontecimento em todo o país.

 

MEDITAÇÃO


Domine, filia mea modo defuncta est: sed veni, impone manum tuam super em et vivet – “Senhor, nesta hora acaba de expirar minha filha; mas vem, impõe sobre ela a tua mão, e viverá” (Mt 9, 18)

 

Sumário. Meu irmão, se porventura te achares enfermo espiritualmente por causa do pecado, imita a hemorroíssa, da qual nos fala o Evangelho, chega-te a Jesus, na pessoa de seu representante, o sacerdote, no sacramento da penitência. Se, como espero, a consciência não te acusa de pecado grave, imita a confiança de Jairo, e roga ao Senhor faça reviver espiritualmente tantos pecadores, teus irmão. Considera, porém, atentamente que não seja daqueles que têm o nome de vivos e estão mortos ou moribundos por causa de sua tibieza.

 

I. Refere o Evangelho que, “enquanto falava aos judeus, acercou-se um príncipe, e o adorou dizendo: Senhor, nesta hora acaba de falecer minha filha; mas vem, impõe sobre ela tua mão e viverá. E Jesus, levantando-se, o foi seguindo com os seus discípulos. E eis que uma mulher, que havia doze anos padecia um fluxo de sangue, chegou-se por detrás dele e lhe tocou a fimbria do vestido. Porque dizia consigo: Se tocar ao menos o seu vestido, estarei curada. E, voltando-se Jesus e vendo-a, disse: Tem confiança, filha, tua fé te sarou. E ficou sã a mulher desde aquela hora – “Et salva facta est mulier ex illa hora.”

Diz Cornélio a Lapide, que tanto a hemorroíssa como a jovem morta são figuras da alma pecadora, a qual Jesus Cristo quer ressuscitar para a vida espiritual e livrar do desregramento da concupiscência, figurado pelo fluxo de sangue. E São Boaventura, refletindo sobre este trecho do Evangelho, dirige-se ao pecador e diz:

“Aquela jovem é tua alma, morta há pouco pelo pecado; converte-te já para Deus: Festina conversionem.”

– Portanto, meu irmão se porventura tens ofendido a Deus, imita a fé daquela pobre mulher e chega-te a Jesus, na pessoa de seu ministro, no tribunal da penitência. E não tardes em fazê-lo, porque, se fores adiando, virá talvez sobre ti a ira de Deus e te mandará ao inferno (1).

Se, porém, como espero, não tens pecado grave na alma, imita a Jairo, pai da jovem, e roga ao Senhor venha com a sua graça e faça ressuscitar espiritualmente tantos pecadores, teus irmãos. – Considera todavia atentamente não sejas do número daqueles de quem diz São João: “Tem reputação de que vivem, mas estão mortos”, ou quase moribundos por causa de sua tibieza (2).

 

II. Continua o Evangelista dizendo que “chegado Jesus à casa do príncipe, vendo os músicos e um bando de gente em alarido, disse: Retirai-vos; porque não está morta a menina, mas dorme. E zombavam dele. Tendo saído a gente, entrou Jesus e tomou-a pela mão. E a menina se levantou. E correu esta fama por toda aquela terra.”

Observa, diz São Gregório, que antes de ressuscitar a menina, Jesus manda a gente sair e faz cessar o alarido. Isso nos ensina que para ressurgirmos do pecado ou da tibieza, devemos afastar de nós esse tropel de pensamentos e afetos desordenados, esse tumulto de cuidados terrestres e de conversações supérfluas. – Acrescenta o evangelista São Marcos, que depois da ressurreição da menina, o Senhor a fez andar e ordenou que lhe dessem de comer (3). É o que nós também devemos fazer depois de ressuscitados para a vida da graça. Não devemos ficar parados, senão andar no caminho da perfeição e com este fim alimentar-nos com o Pão dos Anjos. Os santos ensinam unanimemente que não progredir no caminho do Senhor é voltar para trás: In via Domini non progredi retrogredi est.

 

Ó meu amado Jesus, eu me esqueci de Vós, mas vejo que Vós não Vos esquecestes de mim. Agradeço-Vos as luzes que me comunicais e peço-Vos “queirais absolver-me de todos os meus delitos, para que, por vossa liberalidade, seja livre dos grilhões das culpas que por minha fraqueza contraí.”(4)

 

† Doce coração de Maria, sede minha salvação.

 

Referências:

(1) Ecle 5, 8

 (2) Ap 3, 1

 (3) Mc 5, 43

 (4) Or. Dom. curr.

 

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 225-227)

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