1º Domingo depois da Epifania: Sagrada Família

 


Epístola

Lição da Ep.ª do B. Ap.º Paulo aos Colossenses
Col 3, 12-17


Meus irmãos: Como escolhidos de Deus, que sois, santos e amados, revesti-vos de sentimentos íntimos de misericórdia, de bondade, de humildade, de modéstia e de paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos reciprocamente, se porventura algum tem motivos de queixa contra o outro. Assim como o Senhor nos perdoou, assim também devemos perdoar uns aos outros. Acima de tudo, tende caridade; pois esta é o vínculo da perfeição. Que a paz de Cristo, à qual também fostes chamados para formar um só corpo, reine nos vossos corações. Sede reconhecidos! Que a palavra de Cristo permaneça profundamente em vós, ensinando-vos e admoestando-vos com toda sua sabedoria por meio dos Salmos, Hinos e Cânticos espirituais, louvando a Deus nos vossos corações com cânticos. Tudo o que fizerdes, seja em palavras, seja em obras, fazei-o em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, dando graças por Ele a Deus Pai.

 

Evangelho

Continuação do santo Evangelho segundo S. Lucas
Lc 2:42-52

Quando Jesus completou doze anos de idade, como seus pais tivessem ido a Jerusalém, no tempo da festa, segundo o costume, decorridos que foram os dias da mesma, voltaram para casa, tendo o Menino Jesus ficado em Jerusalém, sem que de tal os pais se apercebessem. Pensando que Ele viria com seus companheiros de jornada, fizeram um dia de viagem, procurando-O depois entre os parentes e os conhecidos. Não O encontrando, voltaram logo a Jerusalém pelo mesmo caminho. Então, aconteceu que, depois de três dias, foram achá-l’O no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E aqueles que O ouviam estavam admirados da sua sabedoria e das suas respostas. Quando os pais O encontraram, ficaram admirados, dizendo-Lhe logo a Mãe: «Meu Filho, porque procedestes assim para connosco? Eis que vosso pai e eu Vos buscávamos aflitos!» Ele disse-lhes: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que é preciso que me ocupe das coisas de meu Pai?», Porém eles não compreenderam o que Jesus lhes disse, Então, desceu com eles, veio para Nazaré e era-lhes obediente. E sua Mãe conservava todas estas coisas no coração. Quanto a Jesus, crescia em sabedoria, em idade e em graça, diante de Deus e dos homens.

 

MEDITAÇÃO

Remansit puer Iesus in Ierusalem, et non cognoverunt parentes eius – “O Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais se apercebessem” (Lc 2, 43)

Sumário. Quando Jesus chegou à idade de doze anos, José e Maria levaram-No consigo a Jerusalém na solenidade de Páscoa. Por ocasião da volta, porém, Jesus ficou no templo, sem que seus pais se apercebessem, e só foi achado ao fim de três dias de busca e de lágrimas. Aprendamos deste mistério que devemos deixar tudo, parentes e amigos, quando se trata de promover a glória de Deus.

I. Escreve São Lucas que Maria e José iam todos os anos à Jerusalém na solenidade de Páscoa, e levavam consigo o Menino Jesus. Era costume entre os Israelitas, conforme diz o venerável Beda, que durante a viagem ao templo (ao menos na volta) os homens andassem separados das mulheres, ao passo que os meninos acompanhavam à vontade o pai ou a mãe. O Redentor, que então tinha doze anos, depois da solenidade, ficou três dias em Jerusalém. A Virgem-Mãe pensava que Jesus estava com José e este julgava-O na companhia de Maria. — O santo Menino empregou aqueles três dias em promover a glória de seu Eterno Pai com jejuns, vigílias e orações e em assistir aos sacrifícios que eram outras tantas figuras do seu próprio sacrifício da Cruz. Para ter algum alimento, diz São Bernardo, foi-lhe mister pedi-lo por esmola, e para descansar não tinha outro leito senão a terra nua.

Quando, à noite, Maria e José se encontraram na pousada, não achavam o seu Jesus, e com suma aflição se puseram a procurá-Lo entre os parentes e amigos. Voltando depois a Jerusalém, acharam-No finalmente, ao terceiro dia, no templo, disputando entre os doutores, que pasmados admiravam as perguntas e respostas daquele menino extraordinário. — Nesta terra não há pena que se possa comparar àquela que uma alma, desejosa de amar a Jesus, experimenta quando teme que por qualquer culpa d’Ele se tenha afastado. Foi esta a dor exatamente de Maria e José naqueles dias, porquanto a sua humildade, diz o devoto Lanspergio, fazia-lhes crer que se tornaram indignos de ter sob sua guarda um tão grande tesouro. É por isso que Maria, encontrando o Filho, a fim de Lhe exprimir a sua dor, disse:

“Filho, porque fizeste assim conosco? Sabe que teu pai e eu te andamos buscando cheios de aflição”

E Jesus respondeu:

“Porque é que me buscáveis? Não sabeis que importa ocupar-me das coisas de meu Pai?”

Tiremos do presente mistério dois ensinos. Primeiro, que devemos abandonar tudo, parentes e amigos, quando se trata de promover a glória de Deus. Segundo, que Deus se deixa achar por quem o busca. Bonus est Dominis animae quaerenti illum (1) — “O Senhor é bom para a alma que o busca”.

II. Ó Maria, vós chorais por terdes perdido vosso Filho uns poucos dias. Afastou-se Ele da vossa vida, mas não do vosso coração. Não vos lembrais que o amor tão puro com que O amais, O faz estreitamente unido convosco? Vós bem sabeis que quem ama a Deus, não pode deixar de ser amado de Deus, que diz: Ego diligentes me diligo (2) — “Eu amo os que me amam”. Porque, pois, temeis? Porque chorais? Deixai que eu chore, que tantas vezes e por minha culpa tenho perdido meu Deus, expulsando-O da minha alma.

Ah! Meu Jesus, como pude ofender-Vos de olhos abertos, sabendo que pelo pecado Vos ia perder? Mas não quereis que o coração que Vos busca desespere, senão que se regozije: Laetetur cor quaerentium Dominum (3). Se em outros tempos Vos abandonei, ó Amor meu, agora Vos busco, e não quero senão a Vós. Para possuir a vossa graça, renuncio a todos os bens e prazeres da terra, renuncio até a própria vida. Vós dissestes que amais a quem Vos ama: amo-Vos, e amai-me Vós também. Estimo mais a posse do vosso amor, do que o domínio sobre o mundo inteiro. Jesus meu, não quero mais perder-Vos; mas não posso confiar em mim mesmo; confio tão somente em Vós. Por piedade! Uni-me estreitamente convosco e não permitais que ainda venha separar-me de Vós. — Ó Maria, vós me fizestes achar meu Deus, que tinha perdido há tempos; obtende-me agora a santa perseverança.

“E Vós, Pai Eterno, que fizestes reluzir sabedoria celestial na humilde puerícia de vosso divino Filho, concedei-nos que nós também, cheios do espírito de prudência, mereçamos, pela sincera humildade, a vossa complacência. Fazei-o pelos merecimentos de Jesus Cristo.” (4)

 

Referências:

 (1) Lm 3, 25

 (2) Prov. 8, 17

 (3) Ps. 104, 3

 (4) Or. Eccl.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 136-138)

 

 

 

 

 

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