XXIV Domingo depois de Pentecostes

 


Epístola

Lição da Ep.ª do B. Ap.º Paulo aos Colossenses.
Col 1, 9-14


         Meus irmãos: Não cessamos de orar a Deus por vós e de pedir-Lhe que vos conceda o verdadeiro conhecimento da sua vontade em toda a plenitude da sabedoria e da inteligência espiritual, para que tenhais uma conduta digna de Deus, agradando-Lhe em todas as cousas, dando frutos em todas as espécies de boas obras e progredindo no conhecimento de Deus. Que sejais fortificados com o poder da glória de Deus para suportardes tudo com paciência, longanimidade e alegria, dando graças a Deus Pai, que nos tornou dignos de tomar parte na herança dos Santos na luz e nos livrou do poder das trevas, para nos transportarmos ao reino do seu amantíssimo Filho, em quem alcançámos pelo seu Sangue a Redenção e a remissão dos pecados.

  

Evangelho

Continuação do santo Evangelho segundo S. Mateus.

Mt. 24, 15-35

         Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Quando virdes a abominação da desolação, anunciada pelo Profeta Daniel, reinando no lugar santo, que aquele que lê entenda: Então, aqueles que estão na Judeia fujam para as montanhas; aquele que se achar em cima do telhado não desça para ir buscar qualquer cousa a casa; e aquele que estiver nos campos não volte a casa para procurar algum vestido. Ai das mulheres que estiverem prestes a ser mães: ou a amamentar seus filhos nesses dias! Rogai ao Senhor que a vossa fuga não seja nem no Inverno, nem ao sábado; pois a aflição será tão grande que não houve cousa semelhante desde o princípio do mundo até ao presente, como não haverá nunca mais; e, se esses dias não fossem abreviados (e sê-lo-ão em atenção aos escolhidos), ninguém seria salvo. Então, se alguém vos disser: «O Cristo está aqui, ou está acolá», não acrediteis; pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas, que praticarão grandes maravilhas e prodígios até mesmo seduzirem (se tal fora possível) os próprios escolhidos. Eu vo-lo anuncio, desde já. Se, pois, vos disserem: «Ei-l’O está no deserto», não saiais; ou se vos disserem: «Ei-l’O aqui, no lugar mais retirado de casa», não acrediteis também; pois, assim como o relâmpago parte do Oriente e brilha até ao Ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem. Em qualquer lugar em que estiver o cadáver aí se reunirão as águias. Imediatamente após a tribulação destes dias o sol se obscurecerá, a lua não projectará luz, as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados. E aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as tribos da terra se lamentarão: e verão o Filho do homem sobre as nuvens do céu, revestido de grande poder e majestade! Ele enviará os seus Anjos, que farão retinir a trombeta em som estridente, e logo convocarão os escolhidos dos quatro ventos, desde uma extremidade dos céus até à outra! Compreendei isto por esta parábola, tirada da figueira: «Quando os seus ramos estão tenros e as folhas começam a despontar, conheceis que está próximo o estio; assim também, quando virdes todas estas cousas, sabereis que o Filho do homem está próximo, que está à porta». Em verdade vos digo: «Esta geração não passará sem que isto aconteça. Passarão o céu e a terra; mas as minhas palavras não passarão!».

 

MEDITAÇÃO

O Fim do Mundo e o Procedimento dos Bons Católicos em Tempo de Perseguição

 

Erit tunc tribulatio magna, qualis non fuit ab initio mundi usque modo – “Será então a aflição tão grande, que, desde que há mundo até agora, não houve outra semelhante” (Mt 24, 21)

 

Sumário. A perseguição que o espírito infernal suscitará no fim do mundo não é a única que devemos temer. Cada dia os ímpios tramam uma revolta igual à do Anticristo, como de sobejo demonstram os males que nos sobrevêm e as guerras que a Igreja Católica tem de sustentar. Aproveitemos os ensinos que Jesus Cristo nos dá no presente Evangelho: Sejamos constantes na fé; humilhemo-nos perante Deus, confessando que temos merecido os seus castigos, e rezemos com fervor, a fim de que sejam abreviados os dias de provação.

I. No Evangelho de hoje Jesus Cristo nos fala da destruição de Jerusalém e ao mesmo tempo do fim do mundo prefigurado pela ruína daquela cidade infeliz. “Será tão grande a aflição”, diz Jesus, “que desde que há mundo até agora, não houve nem haverá outra semelhante. E se não se abreviassem aqueles dias, não se salvaria pessoa alguma; mas hão de abreviar-se em atenção aos escolhidos: Propter electos breviabuntur dies illi.” (1)

— Passando depois a dar-nos avisos apropriados àqueles tempos, recomenda-nos o Senhor especialmente a constância na fé, e prossegue:

“Então, se alguém vos disser: Aqui está o Cristo, ou ei-lo acolá; não lhe deis crédito. Pois se levantarão falsos Cristos e falsos profetas; farão grandes prodígios e maravilhas tais, que (se fôra possível) até os escolhidos se enganariam. Vede que eu vô-lo adverti antes: Ecce praedixi vobis”.

Meu irmão, esperas e estás confiado que não presenciarás esta última tribulação, mas nem por isso creias que não te dizem respeito os avisos do Redentor. São Gregório afirma:

“A perseguição que o espírito infernal suscitará nos últimos tempos não é a única que devamos temer; porque cada dia os ímpios tramam a revolta do Anticristo, e até agora este mistério de iniquidade se planeja às ocultas no seu coração: Iam nunc occultus operatur”.

Ou, para melhor dizer, já está planejado e está sendo executado pela guerra continua e múltipla movida contra a Esposa de Jesus Cristo, a Igreja Católica. — Aproveita-te, pois, dos avisos do Senhor:

“Sede sóbrios e vigiai, porque vosso adversário, o diabo, como leão a rugir, anda ao redor, buscando a quem devore: resisti-lhe fortes na fé”. (2)

II. Abreviar-se-ão aqueles dias em atenção aos escolhidos. Assim como no tempo da destruição de Jerusalém foram abreviados os dias de miséria para os infelizes judeus, em atenção aos escolhidos; assim como em atenção aos mesmos serão para todos os homens abreviados os dias de tribulação na destruição final do mundo; assim Deus, em atenção às almas justas que vivem na Igreja, abreviará em sua infinita misericórdia para esta sua Esposa imaculada os dias de aflição e acelerará o desejado triunfo.

Meu irmão, se não podes de outro modo cooperar para este fim, faze-o pelo menos humilhando-te na presença de Deus, e reconhecendo que os castigos que nos oprimem são consequência dos nossos pecados. E, entretanto, não deixes de dirigir a Deus orações fervorosas. — A fim de que essas orações sejam mais facilmente atendidas, procura fazê-las o mais possível diante de Jesus sacramentado, que, na interpretação comum dos santos, é aquele corpo do qual fala o Evangelho e ao redor do qual se ajuntam as águias, isto é, as almas desapegadas dos afetos terrestres: Ubicumque fuerit corpus, illic congregabuntur et aquilae.

† “Ó clementíssimo Jesus, Vós sois a nossa única salvação, a nossa vida e a nossa ressurreição. Nós Vos pedimos que não nos abandoneis em nossas angústias e tribulações; mas pela agonia do vosso Coração sacratíssimo e pelas dores de vossa Mãe imaculada, socorrei os vossos servos que remistes com vosso precioso sangue.” (3)

— Excitai também, ó Senhor, a vontade dos vossos fiéis; a fim de que pratiquem com maior fervor as obras de piedade, e mereçam com elas maiores remédios da vossa piedade.” (4)

— A vós também, ó grande Mãe de Deus, pedimos esta graça.

 

Referências:

(1) Mt 24, 22

 (2) 1 Pd 5, 8

 (3) Indulg. de 100 dias.

 (4) Or. Dom. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 316-318)

Postagem Anterior Próxima Postagem