Circuncisão do Senhor e Oitava do Natal

 



Epístola

Lição da Ep.ª do B. Ap.º Paulo a Tito.

Tt 2, 11-15

Caríssimo: A graça de Deus, nosso Salvador, manifestou-se a todos os homens, ensinando-nos, a fim de que, repudiando a impiedade e os apetites terrenos, vivamos neste mundo com temperança, justiça e piedade, pensando na esperança, na bem-aventurança eterna e na vinda da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo: que se ofereceu espontaneamente por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e tornar-nos numa raça purificada, escolhida e zelosa em suas boas obras. Ensina e prega estas cousas, em Jesus Cristo, nosso Senhor!

 

Evangelho

Continuação do santo Evangelho segundo S. Lucas.

Lc 2:21

Naquele tempo, passados que foram oito dias depois dos quais o Menino devia ser circuncidado, foi-Lhe dado o nome de Jesus, que foi aquele que o Anjo Lhe havia dado, antes de ser concebido no seio de sua Mãe.

 

MEDITAÇÃO

Consummati sunt dies octo, ut circuncideretur Puer – “Foram cumpridos os oito dias para ser circuncidado o Menino” (Lc 2, 21)

Sumário. A cerimônia da circuncisão era figura do sacramento do batismo. Podemos, por tanto, imaginar que Jesus Cristo, quando foi circuncidado, pensou em cada um de nós, e que oferecendo a seu divino Pai as primícias do seu sangue, desde então nos mereceu a graça de sermos regenerados pelo batismo. Oh, que dom inestimável é o do santo batismo! Como, porém, temos respondido a tamanho favor? Temos, por ventura, manchado a vestimenta branca da inocência?

I. Considera o Pai Eterno, que, tendo enviado seu Filho a fim de padecer e de morrer por nós, quer que no dia de hoje seja circuncidado e comece a derramar o seu sangue divino, para depois acabar de derramá-lo no dia da sua morte na cruz num, oceano de dores e desprezos. E porque? A fim de que esse Filho inocente pague assim as penas por nós merecidas. É, pois, com razão que a Igreja canta: Ó bondade admirável da misericórdia divina para conosco! Ó inestimável amor de compaixão! A fim de remires o homem entregaste teu Filho à morte! — Ó Deus eterno, quem seria capaz de fazer-nos esse dom infinito, senão Vós que sois a bondade infinita? E se, com o dom do vosso Filho, me destes o que mais caro possuíeis, justo é que eu miserável me dê todo a Vós.

Considera por outro lado o divino Filho, que, todo humilde e cheio de amor para conosco, abraça a morte amargosa, que lhe está destinada, para nos salvar, a nós pecadores, da morte eterna. De boa vontade começa hoje a satisfazer por nós à divina justiça, com o preço do seu sangue. — Nosso Senhor disse:

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a própria vida por seus amigos.” (1)

O amor, porém, de Jesus Menino foi muito além, porquanto, assim como diz São Paulo, Ele chegou a sacrificar a vida por nós, seus inimigos:

Cum inimici essemus, reconciliati sumus Deo per mortem Filii eius (2) — “Sendo inimigos de Deus, fomos com Ele reconciliados pela morte de seu Filho”

Portanto, ó meu Jesus, é por meu amor que aceitastes a morte; e que farei eu? Continuarei porventura a ofender-Vos com os meus pecados? Não, Redentor meu, não mais quero ser-Vos ingrato; hoje quero com todas as verás começar a amar-Vos de todo o meu coração. Vós, porém, ó Deus todo-poderoso, concedei-me a graça para Vos ser fiel.

“E já que me fizestes chegar ao começo deste ano, salvai-me pelo vosso poder, a fim de que no correr do mesmo não caia eu em nenhuma falta, e os meus pensamentos, palavras e obras tenham por único escopo fazer aquilo que com toda a justiça exigirdes de mim.” (3)

II. A cerimônia da circuncisão, no dizer dos Santos Padres, prefigurava o sacramento do batismo. É portanto bem a propósito considerarmos que Jesus Menino, quando se sujeitou à circuncisão, pensava em cada um de nós. Oferecendo então a Deus Pai as primícias do seu sangue, começou a merecer-nos a graça de sermos regenerados na fonte batismal. Oh, que dom inapreciável é o do santo batismo! Por meio d’Ele as nossas almas deixaram de ser escravas do demônio, condenadas ao inferno, e se tornaram filhas escolhidas de Deus e herdeiras ditosas do reino dos céus. — Mas, como é que nós temos respondido a tão grande favor?… Lancemos a vista sobre a nossa consciência e vejamos se jamais temos manchado a vestimenta branca da inocência, e prostrando-nos aos pés de Jesus Cristo renovemos os nossos votos do batismo. Para que depois os guardemos fielmente, consideremos cada dia que desponta, como se fosse o último da nossa vida. E, com efeito, meu irmão, quem sabe se ainda vereis o fim do ano que hoje começa?

Senhor meu amabilíssimo, prostrado na presença de vossa divina Majestade, agradeço-Vos o me haverdes adotado por filho no santo batismo. Quero hoje renovar (as promessas que Vos fiz naquele dia, e Vô-las ofereço tintas no sangue que Jesus por meu amor derramou na sua dolorosa circuncisão. Em nome da Santíssima Trindade, Padre, Filho e Espirito Santo, protesto que de todo o coração renuncio a Satanás, às suas pompas e às suas obras. Pesa-me de haver tantas vezes profanado pelos meus pecados o caracter de cristão, e juro que para o futuro Vos quero permanecer fiel. Ó anjos do paraíso, e em particular vós, ó meu anjo da guarda, que um dia anotastes as minhas promessas, sêde hoje novamente testemunhas desta minha resolução. Antes quero morrer do que faltar à promessa do meu batismo, e viver um instante na inimizade de Deus. Vós, ó meu Jesus, dai-me a santa perseverança; fazei-o pela intercessão do Santo cujo nome tomei na pia batismal; fazei-o pelo amor de São José e de Maria Santíssima, que no dia da vossa circuncisão ficaram tão aflitos vendo-Vos derramar pela primeira vez o vosso preciosíssimo sangue.

 

Referências:

(1) Jo 15, 13

 (2) Rm 5, 10

 (3) Or. Eccl.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 105-108)

 

MEDITAÇÃO

Homilia de S. Ambrósio, Bispo de Milão.

Então a criança é circuncidada. Este é o Filho de Quem se diz: Um Menino nos nasceu, até que um Filho nos seja dado, Is. IX. 6. Feito sob a lei para resgatar os que estavam sob a lei.

Aquele que é circuncidado de coração obtém a proteção de Deus, pois os olhos do Senhor estão sobre os justos. Sal. XXXIII 16. Vereis que, assim como todas as cerimônias da antiga lei eram tipos de realidades na nova, a circuncisão do corpo significava a purificação do coração da culpa do pecado.

Uma vez que o corpo e a mente do homem ainda permanecem infectados com uma propensão ao pecado, a circuncisão do oitavo dia também é um tipo daquela purificação completa do pecado que teremos na ressurreição. Esta cerimônia também foi realizada em obediência ao mandamento de Deus: Todo homem que abrir o ventre será chamado santo ao Senhor. Estas palavras foram escritas com especial referência à entrega da Santíssima Virgem. Verdadeiramente, Aquele que abriu seu ventre era santo, pois era totalmente imaculado, e podemos deduzir que a lei foi escrita especialmente para Ele a partir das palavras do Anjo: Aquele Santo que há de nascer de ti será chamado Filho. de Deus.

Entre todos os nascidos de mulher, o Senhor Jesus Cristo permaneceu o único em santidade. Recém-saído de Seu nascimento imaculado, Ele não sentiu o contágio da corrupção humana, e Sua Majestade celestial a afastou. Se quisermos seguir a letra e dizer que todo mal que abre o ventre é sagrado, como explicaremos que tantos foram injustos? Acabe era santo? Os falsos profetas eram santos? Eram santos aqueles sobre os quais Elias justamente invocou fogo do céu? Mas Aquele a quem o mandamento sagrado da lei de Deus é misticamente dirigido é o Santo de Israel; Quem também abriu o ventre secreto de Sua santa Virgem-noiva, a Igreja, enchendo-a de uma fecundidade sem pecado para dar à luz almas cristãs.

 

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