Epístola
Lição da
Ep.ª do B. Ap.º Paulo aos Romanos.
Rm 1, 1-6
Paulo,
servo de Jesus Cristo, apóstolo por vocação divina, escolhido para pregar o
Evangelho, que Deus havia prometido pelos seus Profetas nas Sagradas Escrituras
a respeito de seu Filho (que nasceu da geração de David, segundo a carne, e foi
predestinado Filho de Deus, com o poder, segundo o Espírito de santidade, para
ressuscitar dos mortos) N. S. Jesus Cristo, de quem recebemos a graça e o
apostolado para chamar em seu nome à obediência da fé todas as nações, das
quais vós, que também fostes chamados, fazeis parte.
Evangelho
Continuação ☩ do santo Evangelho segundo S. Mateus.
Mt 1,18-21
Estando já Maria, Mãe de Jesus, desposada com José,
notou-se, antes que eles tivessem coabitado, que ela havia concebido do
Espírito Santo. Mas José, seu marido, que era homem justo, não queria
difamá-la. Resolveu, pois, deixá-la secretamente. Pensando ele nisto, eis que
um Anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David,
não temas receber Maria como tua esposa, porquanto o que ela concebeu é obra do
Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e ser-Lhe-á dado o nome de Jesus; pois Ele
salvará o povo dos seus pecados».
MEDITAÇÃO
In propria
venit, et sui eum non receperunt – Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam (Jo 1, 11)
Sumário. A cidade de Belém, que recusa dar abrigo a
Jesus Menino, foi figura daqueles muitos corações ingratos que dão acolhida a
tantas miseráveis criaturas e não a Deus. Reflitamos, porém, no que a Virgem
Maria disse a uma alma devota: Foi uma disposição divina que a mim e a meu
Filho nos faltasse abrigo entre os homens, afim de que as almas, cativadas pelo
amor de Jesus, se oferecessem a si próprias para o acolherem.
I. Quando um rei faz a primeira entrada numa cidade do
seu reino, que manifestações de veneração se lhe preparam! Que pompas! Quantos
arcos de triunfo! Prepara-te, pois, ó Belém venturosa, para receberes
dignamente o Rei do céu; fica sabedoria que entre todas as cidades és tu a
ditosa que ele escolheu para nela nascer em terra, afim de reinar depois no
coração dos homens. Ex te enim egredietur qui sit dominator in Israel (1) – De
ti sairá aquele que há de reinar em Israel.
Eis que já entram em Belém esses dois excelsos
viajantes, José e Maria, que traz no seio o Salvador do mundo. Entram na
cidade, dirigem-se para a casa do ministro imperial, afim de pagarem o tributo
e serem alistados nos registros dos súbitos do Cesar. Mas quem os reconhece?
Quem lhes vai ao encontro? Quem lhes oferece agasalho? In propria venit, et sui
cum non recepernunt – Ele veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
Eles são pobres, e como pobres são desprezados; são tratados ainda pior do que
os outros pobres, e até repulsos.
Chegada a Belém, Maria entendeu que se aproximava a
hora de seu parto. Avisou a São José, e este diligenciou de não ter de levar
sua esposa à hospedaria, lugar pouco conveniente para uma tenra donzela.
Ninguém quis atender-lhe o pedido, e é bem verossímil que da parte de alguns
fosse taxado de insensato por trazer consigo a esposa próxima ao parto em tempo
noturno e de tanta afluência de povo. – Para não ficar durante a noite no meio
da rua, viu-se afinal obrigado a levar a Virgem Maria à hospedaria pública,
onde já muitos pobres se tinham alojado para a noite. Mas como? Também dali
foram repulsos e foi-lhes respondido que não havia lugar para eles: Non era eis
locus in diversorio (2) – Não havia lugar para eles na estalagem. Havia ali
lugar para todos, também para os mais abjetos, mas não para Jesus Cristo. –
Contemplemos quais devem ter sido os sentimentos de São José e de Maria
Santíssima, vendo-se desprezados e repulsos de cada um.
II. A estalagem de Belém foi figura daqueles corações
ingratos que dão acolhida a tantas criaturas miseráveis e não a Deus. Quantos
há que amam os parentes, os amigos, até os animais, mas não amam Jesus Cristo e
nenhum caso fazem de sua graça e de seu amor. Maria Santíssima disse a uma alma
devota: Foi uma disposição divina que a mim e a meu Filho nos faltasse agasalho
da parte dos homens, afim de que as almas cativadas pelo amor de Jesus se
oferecessem a si próprias para o acolherem e o convidassem amorosamente a tomar
morada em seus corações.
Sim, meu Jesus, vinde nascer pela vossa graça em meu
pobre coração! Eu não me animaria a pedir-Vos esta graça, se não soubesse que
Vós mesmo me inspirais o pensamento de Vo-la rogar. Ó Senhor, eu sou aquele que
com os meus pecados Vos tenho tantas vezes expulso cruelmente da minha alma.
Mas já que baixastes à terra para perdoar aos pecadores arrependidos,
perdoai-me, porque me pesa sobre todas as coisas de Vos ter desprezado, meu
Salvador e meu Deus, que sois tão bom e me tendes tão grande amor. Nestes dias
dispensais grandes graças a tantas almas; consolai também a minha. A graça que
quero, é a de Vos amar para o futuro, de todo o meu coração; abrasai-me todo em
vosso amor. Amo-Vos, meu Deus, feito Menino por meu amor. Ah, não permitais que
eu Vos deixe de amar.
Ó Maria, minha Mãe, vós podeis tudo com as vossas
súplicas; eis ai o que unicamente vos peço: rogai a Jesus por mim, e obtende-me
a graça de amá-lo com todas as minhas forças, afim de desagravá-lo assim de
tantas ofensas, que em outro tempo lhe tenho feito. Ó minha Mãe amantíssima,
rogo-vos, exatamente pela vossa maternidade divina, tomai o meu coração e
aconchegai-o ao vosso; aconchegai-o também ao de vosso divino Filho, e fazei
que seja todo consumido nas belas chamas do amor a vós e a Jesus.
Referências:
(1) Mq 5, 2
(2) Lc 2, 7
OBS: Santo Afonso indulgenciou esta Novena da seguinte
forma: para cada dia da Novena, recebemos Indulgência de 300 dias. Para o dia
do Natal ou num dia da Oitava, recebemos Indulgência Plenária se fizermos e
cumprirmos as obras prescritas da Confissão e da Comunhão.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os
Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana
Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 74-76)