Quinta-Feira Santa


Epístola

1 Cor. 11, 20-32

Meus irmãos: Quando vos reunis em assembleia, já não é para comer a Ceia do Senhor que o fazeis; pois cada um de vós se antecipa em comer a sua própria ceia à parte, de modo que um fica com fome e o outro fica ébrio. Porventura não tendes as vossas casas para aí
comer e beber? Ou, desprezando a assembleia de Deus, quereis humilhar aqueles que nada possuem? Que vos direi? Louvar-vos? Decerto que não posso louvar-vos por isto; pois foi o Senhor que me ensinou o que a este respeito vos transmiti, isto é: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de haver dado graças, partiu-o e disse: «Aceitai e comei. Isto é o meu corpo, que será entregue por vós. Fazei isto em minha memória». Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou o cálice e disse: «Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue. Fazei isto mesmo, em minha memória, sempre que o beberdes». Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha. É por isso que todo aquele que indignamente comer este pão ou beber o cálice do Senhor será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo: e, assim, coma daquele pão e beba do cálice; pois o que comer e beber indignamente, não discernindo o Corpo do Senhor, come e bebe a sua condenação. É por isto que no meio de vós há muitos enfermos e fracos e muitos outros dormem. Portanto, se nos julgarmos a nós mesmos, não seremos condenados; pois, enquanto nos julgamos, o Senhor nos corrigirá, a fim de não sermos condenados com este mundo.


Evangelho

Jo. 13, 1-15

Antes do dia da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora em que devia passar deste mundo para seu Pai, havendo amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim. E, depois da ceia, quando já o demónio havia posto o desígnio de O atraiçoar no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, sabendo Jesus que o Pai havia deixado todas as coisas nas suas mãos e que, havendo Ele saído de Deus, para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o seu manto e cingiu-se com uma toalha. Em seguida, deitou água em uma bacia, começou a lavar os pés dos discípulos e enxugou-lhos com a toalha com que se cingira. Chegou, enfim, a Simão-Pedro, o qual lhe disse: «Senhor, quereis lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «O que Eu faço o não compreendes agora; mais tarde compreendê-lo-ás». Pedro disse-Lhe: «Não; jamais me lavareis os pés!».

Jesus respondeu-lhe: «Se te não lavar os pés, não terás parte comigo». Simão-Pedro disse, então: «Senhor, não só os pés, mas ainda as mãos e a cabeça!». E Jesus disse-lhe: «Quem está lavado só precisa de lavar os pés; pois está todo limpo. Vós também estais limpos, mas não todos». Pois Ele sabia quem havia de entregá-l’O; por isso disse: «Não estais todos limpos». Depois de lhes lavar os pés, tomou os vestidos, assentou-se à mesa e disse: «Sabeis o que vos fiz? Chamais-me Senhor e Mestre e dizeis bem, porque, na verdade, o sou. Se Eu, pois, sendo vosso Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavá-los uns aos outros. Dei-Vos o exemplo, para que, assim como Eu vos fiz, assim façais também».


Meditação para a Quinta-feira Santa

Sciens Iesus quia venit hora eius, ut transeat ex hoc mundo ad Patrem, cum dilexisset suos, qui erant in mundo, in funem dilexit eos – “Sabendo Jesus que era chegada a hora de passar deste mundo para o Pai, como tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1)

Sumário. Embora Jesus Cristo em todo o curso de sua vida mortal nos tivesse amado ardentemente e nos tivesse dado mil provas do seu amor infinito, todavia, quando chegou ao termo dos seus dias, quis dar-nos a prova mais patente pela instituição do Santíssimo Sacramento. Ai o Senhor se faz não só nosso constante companheiro, mas ainda nosso sustento e se nos dá todo inteiro. Com muita razão, portanto, Santa Maria Madalena de Pazzi chamava a quinta-feira santa o Dia do Amor

I. Um pai amoroso nunca patenteia melhor a sua ternura e o seu afeto para com o filhos do que no fim da sua vida, quando os ve em torno do seu leito, aflitos e com os olhos em pranto, e pensa que em breve deve abandoná-los. Tira do seu coração e põe sobre os seus lábios o resto de sua vida prestes a extinguir-se, abraça aqueles penhores queridos do seu amor, exorta-os a serem sempre bons, imprime-lhes no rosto os mais ternos beijos, e misturando as suas lágrimas com as dos filhos, beijos, e misturando as suas lágrimas com as dos filhos, lança-lhes a sua bênção. Depois manda trazer o que mais precioso possui e dando a cada um uma última lembrança: Tomai, diz, e lembrai-vos sempre do amor que vos tenho dedicado.

Foi exatamente assim que quis fazer conosco Jesus Cristo, verdadeiro Pai da nossa alma e Pai tão amante, que na terra não tem havido, nem jamais haverá outro igual. Embora em todo o curso da sua vida mortal nos tivesse amado com amor ardente, e nos tivesse dado mil provas do seu amor infinito, todavia, quando chegou ao termo dos seus dias, quis dar-nos a prova mais patente, pela instituição do Santíssimo Sacramento. E por isso, na mesma noite em que devia ser traído, reuniu os seus discípulos ao redor de si, instituiu a Santíssima Eucaristia, e disse-lhes para os consolar de sua próxima partida:

Filhos meus, vou morrer por vós, para vos mostrar o amor que vos tenho. Posto que, escondido debaixo das espécies sacramentais, deixo-vos o meu corpo, a minha alma, a minha divindade, a mim mesmo todo. Numa palavra, não quero nunca estar separado de vós, enquanto estiverdes na terra: Ecce ego vobiscum sum, usque ad consummationem saeculi (1) – “Eis que estou convosco, até a consumação dos séculos”.

– Meu irmão, que tal te parece esta extrema fineza de Jesus Cristo? Não tinha razão Santa Maria Madalena de Pazzi de chamar a quinta-feira santa o dia do amor?

II. Jesus Cristo não satisfez o seu amor, fazendo-se nosso constante companheiro; quis ainda fazer-se nosso sustento, afim de se unir intimamente à nossa alma, e santificá-la com a sua presença. E nesta manhã, qual amante apaixonado, que deseja ser correspondido, de dentro da Hóstia consagrada, onde nos observa sem ser visto, está espreitando todos os que se preparam para alimentar-se com a sua carne divina, observa em que pensam, o que amam, o que desejam e as ofertas que irão apresentar-lhe.

Irmão meu, prepara-te para recebê-lo com as devidas disposições. Aviva a tua fé na presença real de Jesus Cristo neste inefável mistério; dilata o teu coração pela confiança, lembrando-te que te pode fazer todo o bem, muito te amam e vem a ti exatamente para te enriquecer com as suas graças. Humilha-te profundamente diante da sua divina majestade, e lembrando-te que no passado, em vez de amares um Deus tão bom, o tens magoado, voltando-lhe as costas e desprezando a sua amizade, pede-lhe perdão e toma a resolução de que para o futuro antes quererás morrer do que tornar a ofendê-lo. – Mas prepara-te sobretudo para receber Jesus Cristo com amor, e convida-o pelo desejo.

Vinde, ó meu Jesus, vinde depressa e não tardeis. Ó meu paraíso, meu amor, meu tudo, quisera receber-Vos com aquele amor com que Vos receberam as almas mais santas e mais amantes, com que Vos recebeu Maria Santíssima. Uno a minha comunhão de hoje com as suas. – Santíssima Virgem e minha Mãe Maria, eis que vou receber o vosso Filho. Quisera ter o vosso coração e o amor com que recebeis a santa comunhão. Dai-me hoje o vosso Jesus, assim como o destes aos pastores e aos santos Magos. Desejo recebê-lo de vossas mãos puríssimas. Dizei-lhe que sou vosso servo devoto, porque assim me olhará com olhar mais amoroso e me apertará mais estreitamente contra o seu Coração, quando vir a mim.


Referências:

(1) Mt 28, 20

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 410-413)

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