Sábado Santo

 


Primeira Profecia

Gn. 1, 1-31; 2, 1-2

No princípio criou Deus o céu e a terra. A terra, porém, era informe e vazia; as trevas cobriam o abysmo; e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. Disse, então, Deus: «Faça-se a luz!». E a luz foi feita. E Deus viu que a luz era boa, separando a luz das trevas. E à luz chamou dia e às trevas chamou noite. E da tarde e da manhã se fez o primeiro dia. Disse, também, Deus: «Faça-se o firmamento, no meio das águas, para separar umas das outras». Fez-se, pois, o firmamento, que dividiu as águas que estavam debaixo do firmamento das águas que estavam acima do firmamento. Assim aconteceu. E Deus chamou céu ao firmamento. E da tarde e da manhã se fez o segundo dia. Disse ainda Deus: «Que as águas, que estão debaixo do céu, se reúnam em um só lugar e apareça o elemento árido». Assim aconteceu, chamando terra ao elemento árido, e chamando mares ao conjunto das águas. E viu Deus que era bom tudo quanto havia feito. Depois, disse Deus: «Que a terra produza erva verde; que dê semente; que as árvores produzam frutos, segundo a sua espécie, e contenham em si a sua semente própria». Assim aconteceu: a terra produziu erva verde, que dá semente, segundo a sua espécie, e as árvores produziram frutos, segundo a sua espécie, contendo cada uma delas a sua semente própria, segundo a sua espécie. E Deus viu que tudo era bom. E da tarde e da manhã se fez o terceiro dia. E disse Deus: «Que haja luminares no firmamento do céu, para distinguir o dia da noite; que eles sirvam de sinais para assinalar os tempos, as estações, os dias e os anos; e que brilhem no firmamento do céu e iluminem a terra». E assim aconteceu. Formou, então, Deus dois grandes luminares, sendo o maior para presidir ao dia e o menor para presidir à noite; e fez também as estrelas, que colocou no firmamento do céu para resplandecerem sobre a terra, presidindo umas ao dia e outras à noite e separando a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom. E da tarde e da manhã se fez o quarto dia. Disse mais Deus: «Que as águas produzam animais, Vivendo nas águas, e que as aves voem sobre a terra, debaixo do firmamento do céu». Criou, então, Deus peixes grandes e todos os seres viventes que se movem, produzidos pelas águas, cada um segundo a sua espécie; e criou do mesmo modo todas as aves, segundo a sua espécie. E Deus viu que tudo isto era bom. Então, abençoou tudo, dizendo: «Crescei e multiplicai-vos e enchei as águas do mar; e que as aves se multipliquem na terra». E da tarde e da manhã se fez o quinto dia. E Deus continuou: «Que a terra produza seres animados, cada um segundo a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selvagens, segundo a sua espécie». E assim aconteceu. Deus criou, pois, os animais selvagens da terra, segundo a sua espécie, e os animais domésticos e os répteis, cada um segundo a sua espécie. E viu Deus que tudo isto era bom. Em seguida Deus disse: «Façamos o homem à nossa imagem e semelhança; e que ele mande nos peixes do mar, nas aves do céu, nos animais selvagens, em toda a terra e nos répteis, que se movem na terra». E Deus criou o homem à sua imagem. Ele o criou à imagem de Deus; e criou-os masculino e feminino. Então abençoou-os Deus e disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos; enchei a terra e governai-a; dominai os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem na terra». Acrescentou Deus: «Eis que vos dou todas as ervas, que produzem sementes na terra, e todas as árvores, que dão sementes da sua espécie, para que vos sirvam de alimento, bem como a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os animais vivos que se movem na terra e tenham sopro de vida, a fim de que possam alimentar-se». Assim aconteceu. E Deus viu todas as coisas que tinha feito; e viu que todas eram boas. E da tarde e da manhã se fez o sexto dia. Ficaram, pois, assim criados o céu, a terra e todos seus ornamentos. E concluiu Deus no sétimo dia todas as obras que havia feito; e no sétimo dia descansou de todas suas obras.


Segunda Profecia

Gn. 5; 6; 7 e 8

Quando, pois, Noé contava a idade de quinhentos anos, gerou Sem, Cam e Jafet. E, tendo os homens começado a multiplicar-se sobre a terra e tendo gerado filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e, então, escolheram para suas mulheres as que lhes agradaram mais. Disse, pois, Deus: «Meu espírito não permanecerá sempre no homem, porquanto este não é senão carnal. Seus dias serão somente cento e vinte anos!». Ora, naquele tempo, havia gigantes na terra, porquanto, depois que os filhos de Deus se reuniram às filhas dos homens, nasceram delas aqueles homens robustos e afamados em toda a antiguidade. Vendo, pois, Deus que a malícia daqueles homens era grande e que todos os pensamentos do seu coração se concentravam continuamente no mal, arrependeu-se de haver criado o homem no mundo. Então, cheio de dor, até ao íntimo do seu coração, disse: «Exterminarei da face da terra o homem, que criei, e bem assim os animais, os répteis e as aves do céu; pois estou arrependido de os haver criado». Mas Noé encontrou graça diante do Senhor. Eis a posteridade de Noé: Noé foi varão justo, perfeito e obediente a Deus, havendo gerado três filhos: Sem, Cam e Jafet. Entretanto, a terra estava corrompida diante de Deus e repleta de iniquidades. Vendo, pois, Deus que a terra estava corrompida (pois, segundo o modo de vida dos homens na terra, toda a carne o estava também), disse o seguinte a Noé: «O fim de toda a carne está chegado diante de mim. Destruirei todos os homens da face da terra, assim como esta, pois os homens a encheram, com seus crimes! Mas tu construirás uma arca de madeiras bem aparelhadas; farás nela divisões pequenas e taparás todos seus buracos com betume, tanto por dentro, como por fora. Eis como procederás: terá a arca trezentos côvados de comprimento, cinquenta de largura e trinta de altura. Farás na arca uma janela, que terá um côvado de altura; a porta da arca será ao lado; e dentro construirás aposentos com três andares. Vou inundar a terra com um dilúvio de águas para destruir tudo o que seja vivente e que se encontra debaixo do céu e acima da terra; mas contigo farei uma aliança. Entrarás na arca com tua mulher, teus filhos e suas mulheres. Também farás entrar na arca, para conservares contigo, dois animais de cada espécie: um macho, outro fêmea. As aves, segundo a sua espécie, os animais domésticos das diversas espécies e todos os répteis que rastejam na terra (dois de cada espécie) entrarão contigo na arca, para que se possam conservar. Farás provisão abundante de comidas e as acumularás contigo, para servirem de alimento, tanto a ti, como a eles». Noé fez, então, tudo como o Senhor lhe ordenara. Contava ele seiscentos anos quando as águas do dilúvio inundaram a terra: romperam-se as fontes e depósitos do grande abysmo e abriram-se as cataratas do céu, caindo a chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites! Tendo chegado o dia designado, Noé entrou na arca com seus filhos Sem, Cam e Jafet, sua mulher e as três mulheres de seus filhos, e bem assim todos os animais selvagens, segundo a sua espécie, e também todos os répteis, segundo a sua espécie, e todas as aves, que voam nos ares, segundo a sua espécie. E a arca flutuava sobre as águas, as quais, engrossando cada vez mais, excederam multo a terra e cobriram as mais altas montanhas que havia debaixo do céu! As águas elevaram-se quinze côvados sobre as montanhas que ela cobria. E assim pereceu todo o animal que se movia na terra: aves, animais domésticos e selvagens, répteis e tudo o que se movia na terra, sobrevivendo somente Noé e os que estavam com ele na arca. As águas ficaram cobrindo a terra por espaço de cento e cinquenta dias! Deus recordou-se, então, de Noé e de todos os animais selvagens e domésticos que estavam com ele na arca, e fez soprar sobre a terra um vento forte, diminuindo logo as águas. As fontes dos abysmos e as cataratas do céu fecharam-se, cessando a chuva. As águas, tendo sido agitadas, fortemente, pelo vento, retiraram-se pouco a pouco da terra e diminuíram depois de cento e cinquenta dias. Passados quarenta dias, Noé abriu a janela, que havia feito na arca, e soltou um corvo, o qual saiu e não voltou até que as águas secaram sobre a terra. Depois, soltou de ao pé de si uma pomba, para conhecer se as águas já haviam diminuído da face da terra; mas a pomba, não havendo encontrado onde pousar o pé (pois a terra ainda estava coberta de águas), voltou para a arca. Noé estendeu a mão e recolheu-a dentro da arca. Esperou ainda Noé outros sete dias, após os quais novamente soltou da arca uma pomba, que pela tarde desse dia voltou, trazendo no bico um ramo de oliveira com as folhas verdes; pelo que conheceu Noé que as águas se haviam retirado da superfície da terra. Mais sete dias esperou ainda Noé, e outra vez tornou a soltar uma pomba, a qual não tornou a voltar à arca. E Deus falou a Noé, dizendo-lhe: «Sai da arca, tu, tua mulher, teus filhos e suas mulheres; e bem assim faz sair todos os animais que entraram contigo, de todas as espécies, tanto de aves, como de animais e de répteis, que rastejam na terra. Espalhai-vos de novo pela terra e crescei e multiplicai-vos por ela». Noé saiu, pois, da arca e, consigo, sua mulher, seus filhos e as mulheres de seus filhos, e todos os animais, tanto os selvagens, como os domésticos e os répteis, que rastejam pela terra, cada um segundo a sua espécie. Construiu então Noé um altar em honra do Senhor, e, tomando animais puros e aves limpas, ofereceu-os em holocausto sobre o altar. E o Senhor recebeu este sacrifício como uma oferta de agradável odor.


Terceira Profecia

Gn. 22, 1-19

Naqueles dias, provou Deus a Abraão, dizendo-lhe: «Abraão, Abraão!». Este respondeu: «Eis-me aqui». E Deus disse: «Toma teu filho único, Isaque, a quem amas, vai à terra da visão e oferece-mo em holocausto, sobre um dos montes que Eu te indicar». Levantou-se, então, Abraão, de madrugada, aparelhou o jumento, levou consigo dois criados e seu filho Isaque. E, havendo cortado a lenha para o holocausto, encaminhou-se para o lugar que Deus lhe indicara. Ao terceiro dia, Abraão, erguendo os olhos, viu ao longe este lugar. Disse, pois, a seus servos: «Ficai aqui com o jumento, enquanto eu e Isaque vamos até lá; e, depois de havermos adorado, voltaremos para junto de vós». Tomou a lenha para o holocausto e entregou-a a Isaque, para este a conduzir, levando ele na mão o fogo e o cutelo. Caminhando assim, disse Isaque a seu pai Abraão: «Meu Pai!». Este respondeu: «Que queres, meu filho?». Isaque continuou: «Eis aqui o fogo e a lenha; mas onde está o cordeiro para o holocausto?». Abraão respondeu: «O próprio Deus cuidará de nos dar a vítima para o holocausto, meu filho!». E continuou a caminhar, até que chegaram ao lugar que Deus havia designado. Abraão levantou aí o altar, sobre o qual preparou a lenha. Depois amarrou seu filho Isaque e deitou-o em cima da lenha. Logo, estendeu a mão e empunhou o cutelo para degolar o filho. Então o Anjo do Senhor gritou do céu: «Abraão! Abraão!». Ele respondeu: «Eis-me aqui!». O Anjo continuou: «Não estendas a tua mão para teu filho e lhe não faças mal; pois agora sei que temes o Senhor e que, para me obedeceres, nem poupavas o teu filho único!». Abraão, tendo erguido os olhos ao céu, viu atrás de si um carneiro preso no mato pelas hastes. Tomou, pois, o carneiro e ofereceu-o em holocausto, em lugar do filho. Abraão chamou depois a este lugar: «O Senhor vê»; o qual ainda hoje conserva esse nome. O Anjo do Senhor novamente chamou do céu Abraão, dizendo: «Juro-o por mim mesmo, diz o Senhor, pois que procedeste assim e não poupavas o teu filho único por amor de mim, Eu te abençoarei; e multiplicarei a tua descendência, como as estrelas do céu e como a areia da praia do mar; a tua posteridade possuirá as cidades de seus inimigos e todas as gerações da terra serão abençoadas naquele que sairá de ti; pois obedeceste à minha voz». Então, Abraão voltou ao lugar onde estavam os seus servos e tornaram juntos para Bersabeia, onde habitou.


Quarta Profecia

Ex. 14, 24-31; 15, 1

Naqueles dias, chegada a vigília da manhã, olhando o Senhor, através da coluna de fogo da nuvem para o arraial dos egípcios, destroçou o seu exército e despedaçou as rodas dos carros, que foram lançados nos abysmos do mar. Disseram, então, os egípcios: «Fujamos diante de Israel, pois o Senhor combate em seu favor contra nós». O Senhor disse a Moisés: «Estende a tua mão por cima do mar, para que as águas recuem sobre os egípcios, seus carros e seus cavaleiros». Moisés, quando amanheceu, estendeu a mão por cima do mar, o qual voltou ao seu curso habitual; e, querendo os egípcios fugir, vieram as águas ao seu encontro, e o Senhor os envolveu no meio das ondas do mar. Tornaram-se a unir as águas e cobriram os carros e os cavaleiros de Faraó, que haviam entrado no mar, em sua perseguição. Porém, os filhos de Israel caminharam em seco no meio do mar, formando as águas como que uma muralha à direita e à esquerda. Assim salvou o Senhor, naquele dia, Israel das mãos dos egípcios; e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar e os efeitos da mão poderosa do Senhor, levantada contra eles. Então o povo temeu Deus e acreditou em Deus e em Moisés, seu servo. E Moisés e os filhos de Israel cantaram a Deus este hino: Cantemos ao Senhor, porque gloriosamente manifestou o seu poder, precipitando no mar o cavalo e o cavaleiro. Ele foi o meu auxílio e protecção; foi o meu salvador. ℣. Ele é o meu Deus. Eu o glorificarei. Este é o Deus de meu pai. Eu o exaltarei. ℣. É o Senhor quem vence as guerras: o seu nome é Iaweh. 


Quinta Profecia

Is. 54, 17; 55, 1-11

Esta é a herança dos servos do Senhor; esta é a justiça que devem esperar de mim, diz o Senhor. «Ó vós, que tendes sede, vinde às águas; ó vós, que não tendes dinheiro, vinde depressa, comprai e comei; vinde comprar o vinho e o leite sem dinheiro e sem nada dar em troca. Porque gastais o vosso dinheiro no que vos não pode alimentar? Porque empregais o vosso trabalho no que não pode saciar-vos? Ouvi-me, pois, com atenção: comei o que é bom, e a vossa alma se deleitará com os manjares mais substanciosos. Escutai-me e vinde a mim; escutai-me e viverá a vossa alma; e farei convosco um pacto eterno, concedendo-vos as graças que prometi a David. Eis Aquele que enviei aos povos, como testemunho, e às nações, como príncipe, como governador e mestre. Chamareis um povo, que não conheceis; e as nações, que vos não conheciam, correrão para vós, por amor do Senhor, vosso Deus, e do santo de Israel, que vos glorificou. Procurai Senhor, enquanto podeis encontrá-lo; invocai-o, enquanto está próximo. Que o ímpio abandone o mau caminho; que o homem iníquo afugente os maus pensamentos; que se converta ao Senhor, que será misericordioso; que se volte para o nosso Deus, que lhe perdoará generosamente. Porquanto, disse o Senhor, os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os meus caminhos são os vossos caminhos. Assim como o céu é mais elevado do que a terra, assim os meus caminhos são mais elevados do que os vossos e os meus pensamentos mais nobres do que os vossos. E assim como a chuva e a neve caem do céu e para lá não tornam sem que saciem a terra e a fecundem e nela façam produzir pão para alimento e para a semente, assim também a palavra, que há-de sair de mim, não voltará a mim sem haver produzido fruto. Ela fará tudo aquilo que Eu quero e produzirá aquele efeito para que a enviei», diz o Senhor omnipotente.


Sexta Profecia

Br. 3, 9-38

Ouve, ó Israel, os preceitos da vida; aplica bem os ouvidos, para ficares conhecendo as regras da prudência. Porque, ó Israel, estás na terra dos teus inimigos? Tu envelheceste em terra estrangeira! Tu contaminaste-te com os mortos! Tu és contada entre os que desceram ao lugar do castigo! Foi porque abandonaste a fonte da sabedoria. Ah! Se tu tivesses transitado sempre pelos caminhos de Deus, permanecerias eternamente na paz! Aprende, pois, onde estão a prudência, a virtude e a inteligência, para que ao mesmo tempo saibas onde se goza a estabilidade da vida e a sua conservação, a luz dos olhos e a paz. Quem achou a morada da sabedoria? Quem entrou nos seus tesouros? Onde estão, pois, os príncipes das nações que dominaram os animais da terra e que se recrearam, caçando as aves do céu? Onde estão os que entesouraram a prata e o ouro, em que os homens confiam, que se não esforcem incessantemente em adquiri-la? Onde estão aqueles que põem solicitamente o dinheiro em circulação em empresas raras? Foram exterminados e desceram à habitação dos mortos. Nos lugares deles surgiram outros. Eram jovens e cercados de esplendor; eram senhores da terra. Contudo ignoraram o caminho da verdadeira sabedoria e não conheceram as suas veredas! Seus filhos a não receberam; e afastaram-se até para bem longe dela. Nunca ouviram falar nela na terra de Canaan, nem a viram em Téman. Também os filhos de Agar, que procuraram uma prudência terrena, os negociantes de Merra e de Téman, os narradores de fábulas e tantos outros inventores da prudência e da inteligência ignoraram, outro tanto, o caminho da verdadeira sabedoria, e nem conheceram as suas veredas. Ó Israel, como é grande a casa do Senhor! Como é vasto o território que está sob a sua posse?! Sim! Ele é grande, ilimitado, elevado, imenso! Lá existiam aqueles afamados gigantes de elevada estatura e destros na guerra, que viveram no princípio. Mas não foi a esses que o Senhor escolheu; e nem eles acharam também o caminho da sabedoria. Sua loucura precipitou-os na morte! Quem subiu ao céu, e, encontrando aí a sabedoria, a trouxe dos astros? Quem atravessou o mar, e, tendo-a encontrado, a trouxe, de preferência ao ouro escolhido? Não há quem possa conhecer os seus caminhos e seguir as suas veredas! Só Aquele, que tudo sabe, a conhece; pois esse encontra-a em si mesmo e pela sua própria ciência: Ele, que igualmente criou a terra para sempre e a povoou com animais de todas as espécies; Ele, que manda na luz, e a luz vai; Ele, que chama a luz, e a luz obedece-Lhe, trémula; Ele, por cuja ordem as estrelas, cada uma na sua posição, espalham alegremente a luz pela terra e, chamadas por Ele, logo respondem «Eis-nos aqui», iluminando festivamente Aquele que as criou; Ele, que é o nosso Deus e outro não existe que com Ele se compare; Ele, que encontrou todos os caminhos da verdadeira ciência e que a deu a seu servo Jacob e ao seu amado Israel. Depois disto apareceu na terra e conversou com os homens.


Sétima Profecia

Ez. 37, 1-14

Naqueles dias, a mão do Senhor segurou-me e conduziu-me em espírito ao meio de uma planície, coberta de ossos. Então, fez-me passar em torno deles, vendo eu que eram muitos e que estavam mirrados. Disse-me, pois, o Senhor: «Filho do homem, porventura poderão reviver estes ossos?». Eu respondi: «Senhor e Deus, bem o sabeis». Disse-me Ele ainda: «Profetiza a respeito desses ossos e diz-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor! Assim fala o Senhor e Deus: Eis que vos insuflarei o espírito e vivereis; dar-vos-ei nervos; cobrir-vos-ei de carne e de pele; dar-vos-ei o espírito. Então vivereis e sabereis que sou o Senhor». E profetizei, como me havia sido ordenado. Logo que acabei de profetizar, eis que se ouviu um grande ruído e comoção, após o que os ossos se aproximaram uns dos outros, cada um nas suas articulações. Depois olhei e vi que se revestiam de músculos, de carne e de pele, mas não possuíam ainda espírito. E o Senhor disse-me: «Fala ao espírito: Profetiza, filho do homem, e fala ao espírito: Isto diz o Senhor e Deus: Vem dos quatro ventos, ó espírito, sopra sobre estes mortos para que revivam». Eu profetizei, como o Senhor me mandara, entrando logo o espírito neles e comunicando-lhes a vida. E puseram-se de pé, como um grande exército! Continuou o Senhor a dizer-me: «Filho do homem, todos estes ossos são a casa de Israel. Eles dizem: Secaram-se os nossos ossos; acabou a nossa esperança; estamos perdidos! Profetiza-lhes, pois, e diz-lhes: Assim fala o Senhor: Eis que abrirei vossos túmulos, ó meu povo, vos tirarei deles e vos conduzirei à terra de Israel. E conhecereis, ó meu povo, que sou o Senhor, depois de ter aberto vossas sepulturas, de vos haver tirado delas e dado o meu espírito. Então vivereis e repousareis na vossa terra», diz o Senhor omnipotente.


Oitava Profecia

Is. 4, 1-6

Naqueles tempos, sete mulheres prenderam um só homem, dizendo-lhe: «Comeremos o nosso pão e usaremos os nossos vestidos; somente te pedimos que nos permitas usar o teu nome, a fim de sairmos do opróbrio». Naquele dia, o germe do Senhor manifestar-se-á com magnificência e glória; o fruto da terra será exaltado com honra; e aqueles que houverem sido salvos da ruína de Israel ficarão cheios de júbilo. Então, aqueles que ficaram em Sião e se espalharam por Jerusalém serão chamados santos; bem como aqueles que estão inscritos no livro da vida em Jerusalém, quando o Senhor tiver apagado as manchas das filhas de Sião e purificado Jerusalém das suas nódoas de sangue impuro, enviando o espírito de justiça e o espírito do ardor. Então o Senhor, em toda a extensão da montanha de Sião e onde seja invocado, criará uma nuvem, durante o dia, e uma chama de fogo resplandecente, durante a noite; pois protegerá de todos os lados o lugar da sua glória. E o seu tabernáculo servirá de sombra, durante o calor do dia, e de refúgio e abrigo, durante a tempestade e a chuva.


Nona Profecia

Ex. 12, 1-11

Naqueles dias, disse o Senhor, na terra do Egipto, a Moisés e a Aarão: «Que este mês seja para vós o princípio dos meses: o primeiro dos meses do ano. Falai a toda a assembleia dos filhos de Israel, dizendo: No décimo dia deste mês cada um tome um cordeiro para cada família e para cada casa. Se na casa houver poucas pessoas para comer o cordeiro, chamar-se-ão em casa do vizinho que estiver mais perto tantas pessoas quantas sejam necessárias para comer o cordeiro totalmente. Esse cordeiro será sem mancha, masculino e com um ano de idade; se porventura faltar o cordeiro, podereis tomar um cabrito com iguais condições. Guardareis esse cordeiro até ao dia décimo quarto desse mês, imolando-o, então, pela tarde, toda a multidão dos filhos de Israel. Tomar-se-á o seu sangue, com o qual pintarão as ombreiras e alizares das portas das casas em que o cordeiro for comido. Nessa mesma noite comerão com pão sem fermento e leitugas silvestres a carne, a qual será assada no lume. Não comereis desse cordeiro nada que seja cru ou cozido em água; mas todo será assado no lume. Comereis a cabeça, os pés e os intestinos, e nada deverá ficar para o dia seguinte; porém, se alguma coisa ficar, tereis o cuidado de consumi-la no fogo. Haveis de comê-lo desta maneira: rins cingidos, pés calçados e bordão na mão. Comê-lo-eis com pressa, pois é a ocasião da Páscoa, isto é, a passagem do Senhor».


Décima Profecia

Jn. 3, 1-10

Naqueles dias, falou o Senhor segunda vez ao Profeta Jonas, dizendo: «Ergue-te, vai à grande cidade de Nínive e prega lá o que Eu te inspirar». Jonas ergueu-se e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor. Ora Nínive era uma grande cidade, a três dias de caminho. Jonas entrou na cidade, caminhou durante um dia e começou a pregar, dizendo: «Ainda quarenta dias e Nínive será destruída». Então os ninivitas acreditaram em Deus, proclamaram um jejum público e vestiram-se com sacos, desde o maior ao mais pequeno dos seus habitantes. Chegando isto ao conhecimento do rei de Nínive, ergueu-se ele do trono, despiu a túnica real, vestiu um saco e sentou-se na cinza. Em seguida fez publicar em Nínive pela sua boca e pelos grandes da cidade: Que nem homens, nem animais (ou os bois ou as ovelhas) comessem, pastassem ou bebessem água; que os homens e animais se cobrissem com sacos; que os homens clamassem ao Senhor fortemente; e que toda a criatura humana abandonasse o mau caminho e a iniquidade com que suas mãos estavam manchadas. Quem sabe se Deus se não arrependerá de nos perdoar e não voltará ao furor da sua ira, de modo que todos pereçamos? E Deus viu as suas obras; viu que se convertiam e afastavam dos maus caminhos; e teve piedade do seu povo: o Senhor, nosso Deus».


Décima Primeira Profecia

Dt. 31, 22-30

Naqueles dias, Moisés escreveu um cântico e ensinou-o aos filhos de Israel. E o Senhor ordenou a Josué, filho de Num, dizendo-lhe: «Sê forte e tem coragem, pois conduzirás os filhos de Israel ao país que lhes prometi com juramento. Eu serei contigo». Logo que Moisés acabou de escrever em um livro as palavras desta lei, ordenou aos Levitas, que levavam a Arca da Aliança do Senhor, o seguinte: «Tomai este livro da Lei e colocai-o ao lado da Arca da Aliança do Senhor, vosso Deus, para que seja ali testemunho contra vós, pois sei que vosso espírito é rebelde e vossa cabeça dura! Se, enquanto estou vivo e no meio de vós, sempre tendes sido rebeldes contra o Senhor, quanto mais quando tiver morrido! Reuni junto de mim todos os anciãos e doutores das vossas tribos, e pronunciarei na sua presença este cântico e invocarei contra eles o testemunho do céu e da terra, pois sei que, depois da minha morte, procedereis iniquamente e vos afastareis do caminho que vos tracei. Mas a infelicidade vos assaltará, no decorrer dos tempos, por haverdes pecado contra o Senhor, irritando-O com vossas obras». Pronunciou, então, Moisés, diante de toda a assembleia de Israel, as palavras deste cântico até ao fim:


Décima Segunda Profecia

Dn. 3, 1-24

Naqueles dias, o rei Nabucodonosor mandou fabricar uma estátua de ouro de sessenta côvados de altura e seis de largura, erigindo-a na planície de Dura, na província da Babilónia. Então, o rei Nabucodonosor convocou os sátrapas, os magistrados e os juízes, os capitães, os governadores, os presidentes e os príncipes das províncias, para assistirem à dedicação da estátua, que o rei erigira. Reuniram-se, pois, os sátrapas, os magistrados e os juízes, os capitães, os governadores, os presidentes e os grandes, revestidos de poder, e os príncipes das províncias, para assistirem à dedicação da estátua que Nabucodonosor levantara. Estando, então, todos de pé, em redor da estátua, publicava o pregoeiro com voz forte: «Faz-se saber a vós todos, povos, tribos e pessoas de todas as línguas, que, desde o momento em que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da cítara, da sambuca, do saltério, da sanfonina e de toda a espécie de instrumentos, vos prostrareis, adorando a estátua de ouro que Nabucodonosor mandou erigir; e todo aquele que se não prostrar e não adorar a estátua será lançado imediatamente em uma fornalha de fogo ardente!». Portanto, logo que os povos ouviram o som da trombeta, da flauta, da cítara, da sambuca, do saltério, da sanfonina e de todo o género de instrumentos músicos, prostrados todos os povos, tribos e nações de todas as línguas, adoraram a estátua de ouro. Mas naquele mesmo momento aproximaram-se do rei Nabucodonosor os Caldeus, acusando os judeus e dizendo: «Para sempre vivas, ó rei! Publicaste um decreto, ordenando que todo o homem que ouvisse o som da trombeta, da flauta, da cítara, da sambuca, do saltério, da sanfonina e de toda a espécie de instrumentos músicos se prostrasse e adorasse a estátua de ouro; e quem o não fizesse fosse lançado na fornalha de fogo ardente. Ora há três judeus, a quem nomeaste intendentes da província da Babilónia, quais são Sidrac, Misac e Abdénago, que desprezaram; ó rei, o teu decreto, não prestando culto aos deuses, nem adorando a estátua de ouro que mandaste erigir!». Então Nabucodonosor, irritado e furioso, mandou vir à sua presença Sidrac, Misac e Abdénago, os quais, efectivamente, compareceram. E disse-lhes o rei: «Porventura é verdade que vós, Sidrac, Misac e Abdénago, não prestastes culto aos deuses, nem adorastes a estátua de ouro que mandei levantar? Assim, pois, se estais dispostos a obedecer-me, logo que ouçais o som da trombeta, da flauta, da cítara, da sambuca, da sanfonina e de toda a espécie de instrumentos, prostrai-vos e adorai a estátua que erigi; e, se a não adorardes, sereis precipitados nesse mesmo instante em uma fornalha de fogo ardente! Qual o Deus que poderá livrar-vos das minhas mãos?”. Responderam então Sidrac, Misac e Abdénago ao rei Nabucodonosor: «A esse respeito não é necessário, ó rei, responder-vos, pois o Rei a quem adoramos pode arrebatar-nos da fornalha de fogo ardente e livrar-nos, ó rei, das tuas mãos. E, mesmo que o não queira fazer, saberás, ó rei, que não renderemos culto aos deuses, nem adoraremos a estátua de ouro que erigiste!». Nabucodonosor enfureceu-se, e, fitando Sidrac, Misac e Abdénago com o rosto alterado e com os olhos chispando ira, mandou acender a fogueira de fogo sete vezes mais forte do que o costume, ordenando aos soldados mais fortes da sua guarda que amarrassem de pés e mãos Sidrac, Misac e Abdénago e os lançassem nas chamas da fornalha. Logo estes três homens foram amarrados e lançados no meio das chamas mesmo com suas roupas, turbantes, calçado e outras vestes, pois a ordem do rei era instante. A fornalha estava extremamente chamejante! Ora aqueles homens que lançaram no fogo Sidrac, Misac e Abdénago foram logo abrasados, enquanto que os três, isto é, Sidrac, Misac e Abdénago, caíram amarrados no meio das chamas; mas logo se ergueram, e passeavam, louvavam Deus e bendiziam o Senhor no meio das chamas!


Epístola

Cl. 3, 1-4

Meus irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas que são do céu, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Aspirai às coisas do céu e não às da terra, pois estais mortos e a vossa vida está oculta em Deus com Cristo. Quando Cristo, que é a vossa vida, aparecer, então também aparecereis com Ele na glória.


Evangelho

Mt. 28, 1-7

Após as vésperas de sábado, ao romper da aurora do primeiro dia depois de sábado, Maria Madalena e a outra Maria foram visitar o sepulcro. Houve então um grande tremor de terra: e um Anjo do Senhor desceu do céu, aproximou-se do túmulo, revolveu a pedra e assentou-se sobre ela. Seu rosto tinha o brilho de um relâmpago e os seus vestidos eram brancos, como a neve. Os guardas, logo que o viram, encheram-se de tal pavor, que ficaram como mortos! E o Anjo, começando a falar, disse às mulheres: «Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui, porque ressuscitou, como dissera! Vinde e vede o lugar onde o Senhor havia sido colocado! Ide depressa dizer aos seus discípulos que Ele ressuscitou e que vos precederá na Galileia, onde o vereis. Eis o que antecipadamente vos anuncio».


Primeira Meditação para o Sábado Santo

Involvit sindone, et posuit eum in monumento – “Amortalhou-O no sudário, e depositou-O no sepulcro” (Mc 15, 46)

Sumário. Consideremos como a Mãe dolorosa quis acompanhar os discípulos que levaram Jesus morto à sepultura. Depois de O ter acomodado com suas próprias mãos, diz um último adeus ao Filho e ao sepulcro, e volta para casa, deixando o coração sepultado com Jesus. Nós também, à imitação de Maria, encerremos o nosso coração no santo tabernáculo, onde reside Jesus, já não morto, mas vivo e verdadeiro como está no céu. Para isso é mister que o nosso coração esteja desapegado de todas as coisas da terra.

I. Quando uma mãe assiste a seu filho que padece e morre, sem dúvida ela sente e sofre todas as penas do filho; mas quando o filho atormentado, já morto, deve ser sepultado e a aflita mãe deve despedir-se dele, ó Deus! O pensamento de o não tornar a ver é uma dor que excede todas as outras dores. Essa foi a última espada que traspassou o coração aflito de Maria.

Para melhor considerá-la, voltemos ao Calvário e observemos atentamente a aflita Mãe, que ainda tem abraçado seu Jesus morto e se consome de dor ao beijar-Lhe as chagas. Os santos discípulos, temendo que ela expirasse pela veemência da dor, animaram-se a tirar-lhe do regaço o depósito sagrado, para o sepultarem. Com violência respeitosa tiraram-lh’O dos braços, e embalsamando-O com aromas, envolveram-No em um sudário adrede preparado. — Eis que já O levam à sepultura; já se põe em movimento o cortejo fúnebre. Os discípulos carregam o corpo exânime; inúmeros anjos do céu O acompanham; as santas mulheres O seguem e juntamente com elas vai a Mãe aflitíssima, acompanhando o Filho à sepultura.

Chegados que foram ao lugar destinado, a divina Mãe acomoda nele com suas próprias mãos o corpo sacrossanto; e, ó! Com quanta vontade Maria se sepultaria ali viva com seu Jesus! Quando depois levantaram a pedra para fechar o sepulcro, afigura-se-me que os discípulos do Salvador se voltaram para a Virgem com estas palavras: Eia, Senhora, deve-se fechar o sepulcro: tende paciência, vede pela última vez o vosso Filho e despedi-vos d’Ele. — Ah! Meu querido Filho (assim deve ter falado então a aflita Mãe), não te hei então de tornar a ver? Recebe, pois, nesta última vez que te vejo, recebe o último adeus de mim, tua afetuosa Mãe.

II. Finalmente os discípulos levantam a pedra e encerram no santo sepulcro o corpo de Jesus, aquele grande tesouro, a que não há igual nem na terra nem no céu. Diz São Boaventura, que a divina Mãe, antes de deixar o sepulcro, abençoou aquela sagrada pedra. E assim dando o último adeus ao Filho e ao sepulcro, volta para sua casa, mas deixa o seu coração sepultado com Jesus.

Sim, porque Jesus é todo o seu tesouro, e, como disse Jesus: Ubi thesaurus vester est, ibi et cor vestrum erit (1) — “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. E nós, onde teremos sepultado o nosso coração? Talvez nas criaturas? No lodo? E porque não o teremos sepultado com Jesus, o qual, bem que subido ao céu, contudo quis ficar, não morto, mas vivo, no Santíssimo Sacramento do altar, precisamente para ter consigo e possuir os nossos corações? Imitemos, pois, Maria; encerremos os nossos corações no santo Tabernáculo, para não mais o tornarmos a tomar. Entretanto, colocando-nos em espírito com a dolorosa Mãe junto ao sepulcro de Jesus, unamos os nossos afetos com os de Maria e digamos com amor:

Ó meu Jesus sepultado! Beijo a pedra que Vos encerra. Mas ressuscitastes ao terceiro dia. Ah! Pelos méritos de vossa gloriosa ressurreição, fazei com que no último dia eu ressuscite convosco na glória, para estar sempre unido convosco no céu, para Vos louvar e amar eternamente. Eu Vo-lo peço pela vossa paixão, e pela dor que sentiu a vossa querida Mãe, quando Vos acompanhou ao sepulcro.


Referências:

(1) Lc 12, 34

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 420-422)

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