O dogma
da ressurreição de Nosso Senhor detém uma importância central na religião
católica. No entanto, este dogma enfrentou ataques violentos, com alguns
rotulando os discípulos como impostores, enquanto outros os acusavam de serem alucinados
ou enganadores.
1 - Adversários
Os Discípulos como impostores:
a) No século I, alguns judeus e os deístas do século
XVIII alegaram que o sepulcro estava vazio após os três dias da morte de Jesus
porque os Apóstolos teriam removido o corpo do Senhor do sepulcro para que
todos acreditassem na Ressurreição de Jesus.
b) Outros como Salvador, Judeu, e Paulus, racionalista,
afirmaram em suas teses que Jesus não teria morrido na cruz, mas sim caído em
um estado de letargia, uma inconsciência semelhante a um sono profundo. Depois
de algum tempo ele teria despertado dessa letargia, e, após alguns dias, Jesus
teria aparecido aos discípulos que teriam inventado a fábula do túmulo vazio e
das aparições.
Em nossa época, há a alegação de que os Apóstolos foram
enganados:
a) Racionalistas como Renan e protestantes liberais
afirmam que os Apóstolos sofreram alucinações em relação à ressurreição de
Jesus.
b) Modernistas como Loisy argumentam que as narrativas
dos Evangelhos sobre a Ressurreição são lendas inventadas pela imaginação dos
primeiros cristãos.
2 - Dogma da Ressurreição
Conforme
o Dogma da Ressurreição, que é considerado real, Jesus, após o terceiro dia de
sua morte, retomou o mesmo corpo que tinha antes, embora em um estado glorioso.
Sendo assim:
a) A Ressurreição é um fato real em que Jesus Cristo
retomou sua própria carne, e suas aparições não eram de um espírito.
b) Baseados nas instruções de São Paulo na Sagrada
Escritura, 1 Coríntios 15,35-44, os teólogos reconhecem que o corpo de Nosso
Senhor é um corpo glorioso com novas qualidades:
Incorruptibilidade: não pode mais sofrer ou morrer.
Agilidade ou locomoção rápida, como a dos espíritos.
Subtileza: pode atravessar corpos sólidos, como sua
entrada no Cenáculo, que tinha as portas fechadas.
Claridade: Corpos gloriosos têm uma luz semelhante à do
sol.
A
Ressurreição não é apenas um fato sobrenatural, como alegam os modernistas; é
um fato histórico. Este fato histórico é testemunhado por São Paulo.
TESTEMUNHO DE SÃO PAULO
Os
coríntios foram evangelizados por Paulo alguns anos antes e estavam enfrentando
desacordos relacionados à Ressurreição. São Paulo não precisava provar a
ressurreição de Cristo, mas sim estabelecer o dogma da ressurreição dos corpos.
O argumento de São Paulo é precisamente que a ressurreição de Jesus é o modelo
e a garantia da ressurreição dos mortos. Paulo ensina que Cristo ressuscitou ao
terceiro dia após sua morte e sepultamento e apareceu a várias pessoas (1
Coríntios 15,4-9). São Paulo afirma que aprendeu dos apóstolos os fatos que
afirma: a morte, sepultura, ressurreição e aparições. Cristo morto e sepultado
retornou à vida com o mesmo corpo que estava no sepulcro e foi visto em cinco
lugares diferentes e em diversas circunstâncias.
Segundo
São Paulo, após pouco tempo da morte de Jesus, os Apóstolos já tinham a certeza
da ressurreição, devido às aparições de Cristo que Paulo ouviu dos discípulos.
São Paulo não menciona nenhum fato relacionado a Cristo e sua ressurreição nos
Evangelhos, mas sim visa mostrar que a ressurreição de Cristo é a base para a
ressurreição dos mortos em geral.
TESTEMUNHO DOS EVANGELHOS
Os
Evangelhos fornecem a certificação de duas coisas:
O túmulo de Cristo foi encontrado vazio.
As aparições do Ressuscitado.
a) Argumento com o túmulo vazio:
Os
Evangelhos relatam que as mulheres que iam embalsamar o corpo de Nosso Senhor e
os discípulos encontraram o sepulcro vazio, com a pedra rolada e os panos que
estavam no corpo de Cristo no chão. Os anjos proclamaram a notícia da
Ressurreição. Já os guardas assustados contaram aos líderes do povo o ocorrido,
e os líderes pagaram a eles para
espalhar a história de que haviam caído em sono e os discípulos teriam roubado
o cadáver. Os evangelistas utilizam esse desaparecimento do corpo de Jesus do
túmulo como prova da ressurreição. Os Apóstolos abordaram esse tema em suas
pregações e não tiveram problemas com o Sinédrio acusando-os de violar túmulos.
b) Argumento das Aparições:
O túmulo
é uma prova indireta, enquanto as aparições de Nosso Senhor são provas diretas.
As aparições apontadas pelos Evangelhos e por São Paulo somam um total de 11: a
Maria Madalena no Sepulcro; as Mulheres que estavam retornando; a São Pedro;
aos Discípulos a caminho de Emaús; aos Apóstolos reunidos no Cenáculo, com a
ausência de Tomé; aos Apóstolos no Cenáculo com Tomé presente; a cinco
Apóstolos e dois discípulos no Mar de Tiberíades; aos Onze Apóstolos no monte da Galileia; a mais
de 500 irmãos reunidos; a Tiago, primo de Nosso Senhor e aos Onze Apóstolos em Jerusalém.
3 - Principais Objeções
a) Contra o argumento do túmulo vazio:
Aceitam o
fato material do túmulo vazio, mas alegam que o corpo de Nosso Senhor teria
sido arrebatado.
Alguns
negam a ressurreição, considerando-a uma lenda para promover a não crença na
ressurreição e sugerem que o corpo de Nosso Senhor teria sido lançado em uma
vala comum.
Em relação a essas objeções, consideramos:
Os
Apóstolos não teriam motivo para criar uma fábula ou lenda sobre a ressurreição
de Nosso Senhor. Como poderiam realizar o arrebatamento do corpo de forma tão
sigilosa, violenta ou astuta? Os Apóstolos não recorreram à violência, pois
fugiram durante a Paixão de Cristo. Além disso, não tinham recursos financeiros
para subornar alguém. A astúcia envolveria enganar os guardas, mover a pedra
silenciosamente, retirar o corpo do sepulcro e mantê-lo oculto, tudo sem que
ninguém revelasse o segredo. Haveria assim, uma dificuldade enorme para
realizar tal coisa.
Se a
ressurreição fosse uma lenda, como se explicaria a fé dos Apóstolos, bem como a
transformação de suas vidas após a crucificação? Após a morte de Jesus na cruz,
os Apóstolos demonstraram coragem ao pregar audaciosamente.
A
hipótese de uma vala comum, como sugerida por Loisy, carece de base histórica,
uma vez que tanto a lei judaica quanto a romana não contemplavam tal conceito.
Além disso, é razoável supor que os discípulos desejariam prestar as últimas
homenagens ao Mestre.
b) Contra o argumento das aparições:
Algumas
divergências nas narrativas dos Evangelhos são apontadas, como a discrepância
entre o número de mulheres e anjos no túmulo de Cristo. Os Evangelistas Mateus
e Marcos afirmam que as aparições ocorreram na Galileia, enquanto Lucas e João
mencionam que foi na Judeia. No entanto, essas diferenças não diminuem o valor
do testemunho, e há um consenso sobre a ressurreição.
Os
racionalistas sugerem que as aparições foram subjetivas ou alucinações das
testemunhas, baseadas na imaginação dos Apóstolos, devido ao amor ardente que
sempre tiveram pelo Mestre. A fé primitiva no Messias e o drama do Calvário
teriam gerado a ideia da ressurreição. No
entanto, é improvável que tantas pessoas de diferentes naturezas tenham sido
vítimas da ilusão dos sentidos. Jesus Ressuscitado apareceu em 11 ocasiões a
diversas pessoas, com registro de 500 testemunhas em um único momento (1
Coríntios 15, 3-8). Além disso, as aparições ocorreram quando os apóstolos
estavam em um estado de aflição, em busca de esconderijos, o que torna
improvável que estivessem imaginando fantasmas.
Os fatos
das aparições incluem o pedido de Jesus para que tocassem suas chagas, a
realização de refeições diante dos discípulos e a afirmação de que Ele não era
um espírito, pois possuía carne e ossos. Tais fatos indicam que as aparições
eram reais e não alucinações.
Os
modernistas afirmam que as aparições e o túmulo vazio são devaneios ou lendas
míticas criadas no século II para expressar a fé dos cristãos. Eles sugerem que
os apóstolos inicialmente acreditavam na sobrevivência de Jesus e não na
ressurreição, e que a fé na ressurreição corporal de Cristo veio
posteriormente.
No
entanto, os registros das Escrituras, como Atos dos Apóstolos e a Primeira
Epístola aos Coríntios, demonstram que os Apóstolos já pregavam a ressurreição
de Cristo e a imortalidade desde o início. São Pedro afirma que Deus
ressuscitou Jesus dos mortos (Atos 2, 32-33), e São Paulo também ensina que
Deus ressuscitou Jesus dos mortos (Atos 13, 31).
Conclusão:
A análise
dos documentos revela que, desde o início, os Apóstolos acreditaram na
ressurreição de Nosso Senhor, baseada no túmulo vazio e nas aparições. Eles
acreditavam que Jesus estava verdadeiramente ressuscitado, pois Ele apenas
estave no sepulcro, mas estava vivo novamente, transformado e glorificado.
Jesus
Ressuscitado permaneceu na Terra por mais 40 dias, com dois objetivos
principais:
Confirmar
ao mundo que Ele ressuscitou verdadeiramente, aparecendo apenas aos discípulos
e amigos. Deus assim desejava que a fé fosse uma escolha livre, e não algo
imposto.
Completar a formação dos Apóstolos e esclarecer questões importantes, como a organização e liderança da Igreja, entre outras.
Fonte
Utilizada:
Doutrina Católica do Cônego Auguste Boulenger