Redenção de Cristo
O quarto artigo
do Credo aborda a morte de Jesus, sua paixão e os frutos resultantes de sua
morte - a redenção.
I. A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo
A paixão de
Nosso Senhor ocorreu em Jerusalém sob o governo de Pôncio Pilatos. Para
entender o porquê os judeus crucificaram Jesus, é importante notar que havia
diferentes concepções sobre o Messias. Os saduceus, que estavam satisfeitos com
o governo romano, e os fariseus, que ansiavam pela independência de Israel,
tinham visões divergentes sobre o Messias. Ambas seitas opunham a ideia de um
Messias revolucionário, temendo perturbações. Assim, julgaram que Jesus não
poderia ser o Messias Glorioso. No entanto, essas seitas não representavam a
totalidade da população judaica. Influências psicológicas levaram ao clamor
pela crucificação de Jesus.
II. Principais Cenas da Paixão
A Agonia
no Horto das Oliveiras: O início da paixão de Cristo, marcado por Sua angústia
no Jardim do Getsêmani.
A Traição
de Judas, Prisão de Jesus e o Julgamento: Os eventos que levaram a Jesus ser
levado perante os tribunais, incluindo os julgamentos perante Anás, Caifás,
Pilatos e Herodes.
O Julgamento
e Condenação de Jesus: Os esforços de Pilatos para salvar Jesus, mas a multidão
pediu sua crucificação.
Execução:
Jesus carregando a cruz e as etapas da Via Crucis, juntamente com Suas Sete
Últimas Palavras.
Sepultura:
O sepultamento de Jesus no sepulcro de José de Arimateia.
III. O Significado da Redenção
A
redenção é o cerne do mistério da morte de Jesus Cristo na cruz, que visa nos
resgatar. Para entender a redenção, é necessário considerar três elementos:
Perda de
um Bem: A
humanidade perdeu a graça devido ao pecado original.
Nova
Posse do Bem: Através da redenção, os seres humanos podem ser
reintegrados na amizade com Deus.
Resgate: A morte de
Cristo na cruz oferece o resgate necessário para recuperar o bem perdido.
Embora
possa ser difícil para a razão humana compreender como Deus foi crucificado e
sofreu, sabemos que os atos humanos de Deus emanam de Sua natureza divina.
IV. A Necessidade da Redenção
Deus
poderia ter escolhido castigar a humanidade devido ao pecado original,
aniquilando-a ou reduzindo-a a uma ordem puramente natural. No entanto, Deus
escolheu restaurar a amizade com a humanidade. Isso poderia ser feito de duas
maneiras:
Perdão
sem Reparação: Deus poderia simplesmente perdoar a ofensa sem exigir
reparação. No entanto, isso deixaria a justiça de Deus em segundo plano.
Conciliação
da Bondade e Justiça: A outra opção era reconciliar a bondade e justiça de
Deus, exigindo uma satisfação pelas faltas. No entanto, a humanidade não
poderia pagar o resgate devido à sua natureza finita. A reparação deveria ser
equivalente à ofensa, o que requereria a intervenção pessoal de Deus.
Para que
a reparação fosse completa, o Filho de Deus encarnou, adotando a natureza
criada, para cumprir o plano de redenção.
V. A Existência da Redenção
Embora
tenham havido adversários que questionaram a doutrina da redenção, a tradição
católica a reconheceu como dogma. Os Concílios de Éfeso e Trento afirmaram que
a paixão e morte de Cristo na cruz alcançou a satisfação de Deus pelos pecados
da humanidade, concedendo-lhes a salvação.
A Sagrada
Escritura, o Antigo Testamento e o Novo Testamento, juntamente com o testemunho
dos apóstolos e Padres da Igreja, respaldam a doutrina da redenção. Os pais da
Igreja comparam a libertação do povo judeu pelo cordeiro pascal como sendo a
futura libertação vinda pelo Messias. Clemente diz que Cristo derramou seu
sangue para nossa Salvação. Justino e Santo Irineu dizem que o sangue de Cristo
nos redimiu, sendo verdadeiro sacrifício, e por sua obediência Ele expiou nossa
revolta. Diversas declarações de Jesus nos mostram essa doutrina sobre a
redenção. Vale ressaltar então algumas passagens como: Lc XIX, 10; Mt XVI,21;
Mt XX, 28; Lc XXII, 20. Em relação aos Apóstolos o destaque fica para São Paulo
que desenvolve a doutrina da redenção em Ef I,7; II Cor V, 18; Rm III,24-25.
VI. Características da Redenção
A
redenção foi um ato livre e voluntário de Cristo, uma satisfação pelo pecado,
uma reconciliação do homem com Deus e uma restauração dos dons sobrenaturais perdidos
devido ao pecado original de Adão.
Nosso
Senhor Jesus assim solucionou os débitos da humanidade culpada pela sua
redenção na cruz. A redenção assim é para todos, deve ser de acordo com a
ofensa praticada e é superabundante, ou seja, dá satisfação completa.
VII. Universalidade da Redenção e Cooperação
Embora alguns tenham negado a universalidade da
redenção, a Igreja Católica sustenta que Cristo morreu por todos os homens e
por todos os pecados. Isso nos diz o Concílio Tridentino.
A
cooperação humana é necessária para colher os frutos da redenção, e as obras
desempenham um papel importante na justificação. O homem assim deve expiar seus
pecados em união com o sofrimento de Cristo na cruz. E nossa justificação ou
salvação não compreende somente a fé.
VIII. O Mistério da Redenção Perante a Razão
Enquanto
os racionalistas podem questionar a justiça divina na redenção, a Igreja
católica sustenta que a redenção é uma expressão da justiça distributiva de
Deus, restaurando a amizade com a humanidade através da justiça e bondade
divinas. Deus retribui a cada homem segundo o bem ou mal que mesmo praticou.
Neste
artigo, exploramos o profundo significado da redenção na paixão de Cristo,
destacando como a doutrina católica tradicional enfatiza a necessidade, a
universalidade e a cooperação na redenção, ao mesmo tempo em que a justiça
divina é mantida. Este mistério da redenção é um dos pilares centrais da fé
católica.
Fonte Utilizada:
Doutrina Católica do Cônego Auguste Boulenger