Neste artigo, exploraremos as diferentes perspectivas sobre o inferno, desde a visão da Igreja Católica até os argumentos baseados na Sagrada Escritura, na Tradição e na razão.
1. Erros sobre a Existência do Inferno
a) Orígenes e a Perspectiva Universalista
Nos
primeiros séculos da Igreja, o pensador Orígenes e seus seguidores sustentavam
a existência do inferno, mas negavam que fosse eterno. Acreditavam que os
espíritos que abusavam da liberdade passariam por uma purificação pelo fogo e,
após isso, seriam salvos e entrariam na glória. Essa visão, de certa forma,
reflete a postura de protestantes liberais e anglicanos. Além disso, ensinavam
que haveria uma reconciliação universal entre Deus e as criaturas culpadas,
incluindo anjos ou demônios, eles são conhecidos como universalistas.
b) Perspectiva Racionalista
Os
racionalistas rejeitam a ideia de penas eternas no inferno, alegando que não
condiz com a misericórdia, justiça e sabedoria de Deus.
2. O Dogma Católico
Segundo a
doutrina católica tradicional, aqueles que morrem em estado de pecado mortal,
incluindo demônios, enfrentam o suplício eterno. Esse dogma é definido pelo
símbolo de Santo Atanásio, bem como pelos Concílios de IV Latrão, Lyon e
Florença, e pela constituição de Bento XII.
Sagrada Escritura
Antigo Testamento
O profeta
Daniel menciona que os mortos ressuscitarão, alguns para a vida eterna e outros
para a condenação eterna (Dn XII, 2).
Livros
como Jó, Salmos, Provérbios e Eclesiastes destacam as diferenças entre as
tribulações e virtudes, indicando sanções futuras para restaurar a ordem.
Novo Testamento
Doutrina de Jesus Cristo
Jesus
fala sobre o inferno com seriedade e afirma que, no final dos tempos, os justos
serão separados dos maus (Mt XXV, 14-46). Ele compara o inferno à geena, onde
os condenados estão, alertando seus discípulos a fazerem sacrifícios para
evitá-lo (Mc IX, 42-43). Jesus também usa parábolas para ilustrar a realidade
do inferno.
Doutrina dos Apóstolos
Os
Apóstolos seguiram os ensinamentos de Jesus, pregando a perdição eterna dos
maus. São Pedro fala sobre o castigo eterno dos maus (II Pd II, 4-9), e São
Paulo menciona a vida futura para justos e fala do inferno e sua eternidade (II
Ts I, 5-9; Gl V, 19-21; Ef V, 5). O Apóstolo São João, no Livro do Apocalipse,
descreve um lago de fogo ardente para imorais, mágicos e idólatras (Ap XXI, 8).
Tradição
Nos
primeiros séculos da Igreja, os Padres da Igreja uniram-se na crença da
existência do inferno e em suas penas eternas. Embora Orígenes tenha defendido
visões diferentes, elas foram posteriormente combatidas por líderes como São
Basílio e nos Concílios de Constantinopla (553) e IV Latrão (1215).
Testemunho dos Mártires
Durante
as perseguições, os cristãos preferiam sofrer torturas passageiras a encarar o
sofrimento eterno no inferno.
Tradição Pagã
A crença
no inferno não é exclusiva da religião católica; ela também existe em diversas
culturas pagãs. Muitos mitos refletem a crença em um sofrimento eterno como
punição por crimes nesta vida.
Razão Teológica
Deus é
visto como o Juiz Supremo que recompensa cada um de acordo com suas obras.
Enquanto neste mundo os maus e criminosos frequentemente não enfrentam punição.
Na eternidade, Deus estabelece a ordem, recompensando os justos e punindo os
maus.
V. Natureza do Inferno
O inferno
é compreendido como um castigo que corresponde à natureza da culpa. Um pecado
mortal afasta o homem de Deus e o volta para as criaturas, resultando em duas
penas: a pena de separação e a pena de sentido.
Pena da Separação
É a
privação da visão beatífica, ou seja, a separação eterna de Deus. Aqueles
condenados ficam para sempre afastados da beleza divina, sem nenhuma forma de
reparação.
Pena de Sentido
Esta é
uma punição pelo apego ao pecado e à satisfação das coisas mundanas, causando
tormento para os sentidos. Essa pena afeta as almas, mesmo fora do corpo, mas é
sentida com maior intensidade quando corpo e alma estão unidos.
Consequências
A
condição dos réprobos no inferno é desigual em termos de intensidade das penas,
já a duração das mesmas são iguais, ou seja, nunca acabaram. As penas são
diferentes de acordo com as obras más praticadas.
Mitigação das Penas
Alguns
teólogos defendem a ideia de que as penas no inferno podem ser temporariamente
mitigadas de acordo com as orações dos fiéis. Isso se baseia em passagens
bíblicas e nas opiniões de pais da Igreja. No entanto, a maioria dos teólogos,
incluindo Santo Tomás de Aquino, sustenta que a Escritura não respalda essa
visão.
Número dos Condenados e Situação do Inferno
A Igreja
não oferece uma resposta definitiva sobre o número de condenados nem sobre a
situação específica no inferno. O ensinamento é que aqueles que morrem em
pecado mortal não perdoado enfrentarão o sofrimento eterno.
VI - A Eternidade do Inferno à Luz da Razão
Alguns
argumentam que a ideia da eternidade das penas no inferno é incompatível com a
bondade e a justiça de Deus. No entanto, a fé católica afirma que o inferno é
eterno e que essa visão não entra em conflito com a razão. A eternidade das
penas é considerada justa de acordo com a gravidade do pecado e a necessidade
de restaurar a ordem divina.
Em
conclusão, o inferno é um tema complexo e profundamente enraizado na teologia
cristã, com diversas perspectivas teológicas e filosóficas. A visão católica
tradicional sustenta a existência do inferno e suas penas eternas, baseando-se
na Escritura, Tradição e razão teológica.
Fontes utilizadas:
Doutrina Católica do Cônego Auguste Boulenger